Bem-viver ou viver melhor?
O Butão, país espremido entre a China e a Índia, aos pés do Himalaia, muito pobre materialmente, instituiu oficialmente o Índice de Felicidade Interna Bruta.
Por Leonardo Boff
Este não é medido por critérios quantitativos, mas qualitativos, como boa governança das autoridades, equitativa distribuição dos excedentes da agricultura de subsistência, da extração vegetal e da venda de energia para a Índia; boa saúde e educação; e, especialmente, bom nível de cooperação de todos para garantir a paz social.
Nas tradições indígenas de Abya Yala, nome indígena para o nosso continente indígena-americano, ao invés de “viver melhor” se fala em “bem-viver” e “bem-conviver”. Essas categorias entraram nas constituições da Bolívia e do Equador como objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade.
O “viver melhor” supõe uma ética do progresso ilimitado e nos incita a uma competição com os outros para criar mais e mais condições para isso. Entretanto, para que uma categoria possa “viver melhor”, milhões e milhões tiverem e têm que viver mal. É a contradição capitalista.
Contrariamente, o “bem-viver” andino visa uma ética da suficiência e da decência para toda a comunidade e não para o indivíduo.
O “bem-viver” supõe uma visão holística e integradora do ser humano, inserido na grande comunidade terrenal que inclui, além do ser humano, o ar, a água, os solos, as montanhas, as árvores e os animais.
É estar em profunda comunhão com a Pacha Mama (Terra), com as energias do Universo e com Deus (…).
O “bem-viver” nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção de resíduos que não podem ser absorvidos com segurança pela natureza, e nos incita a reutilizar e reciclar tudo o que tivermos usado. Será um consumo reciclável, sóbrio e frugal. Então não haverá escassez.
Leonardo Boff – Teólogo. Filósofo. Escritor, em A Grande Transformação na economia, na política e na ecologia. Editora Vozes, 2014.