Bolacha

Bolacha de cinco pratos: Pecado da infância

Bolacha de cinco pratos: Pecado da

Fosse noite, fosse dia, fizesse chuva, fizesse sol, de segunda a segunda, de janeiro a janeiro, não havia quem chegasse àquela casa velha de tábuas e não a encontrasse.

Por Lúcia Resende

No cômodo anexo à cozinha, na despensa, lá estava ela. Guardada em uma lata ou num pote de vidro, sempre com tampa, na parte do antigo guarda-comida.

Ali, no guarda-comida (que é como se chamava o armário onde se guardavam os quitutes), sempre protegida de formigas, baratas e ratos, com cuidados que iam desde a tela protetora até as armadilhas que sustentavam os pés do armário e mantinham longe os invasores, é que a bolacha de cinco pratos, herança da vó Enézia Cândida de Oliveira, fazia morada.

Ela mesma, ao lado de outras delicitudes que são hoje objeto de confissões das que frequentavam a casa da tia Baíla (Debraíla Vilas Boas), ali na beira do Rio Grande, na fazenda Aldeia dos Índios. Desde senhores e senhoras quase ou já sessentões até a moçada mais nova que teve o privilégio de por ali estar até a partida da velhinha de mais de 90 anos, no começo deste século, cada qual tem uma pra contar e pra quase se envergonhar.

Não há quem não se lembre dos pequenos furtos feitos à noite, no entremeio das idas ao banheiro, ou mesmo à luz do dia, quando a janela ao lado servia para a espreita, antes do gesto escondido, do mastigar apressado, da mão passada na boca para esconder o malfeito. Eu fiz, todos e todas fizeram, mas só agora as confissões emergem, fazendo com que cada qual perceba que o segredo de então era na verdade um bem coletivo.

Felizmente a herança ficou. Antes de ir, ela ensinou a receita a muita gente, inclusive a mim. Pois aqui está, pra quem quiser conferir e ver que as crianças da casa da tia Baíla não tinham como escapar do pecado.

BOLACHA DE CINCO PRATOS

1 prato de polvilho

1 prato de farinha de trigo

1 prato de maisena

1 prato de açúcar cristal

1 prato de queijo ralado

2 ovos

1 colher de sopa cheia de pó royal

1 pitada de sal

Nata o quanto baste

Atenção!

  • O prato de medida é fundo, pelo vinco. Em substituição, pode-se usar um copo duplo.
  • Se não houver nata, você pode usar duas colheres de sopa cheias de manteiga e acrescentar aos pouquinhos, até dar o ponto.

MODO DE FAZER

Em uma bacia, misture todos os ingredientes secos e misture bem. Em seguida, acrescente os ovos e vá amassando com nata, colocando aos poucos, para não desandar. Quando estiver uma massa macia, firme, enrolar numa mesa ou balcão, cortar as bolachas, amassar levemente com garfo e levar ao forno para assar.  Para desenformar, deixe esfriar. Sirva com café, chá, geleia e tudo quanto a imaginação e o paladar permitirem. Agora, não deixe de comer ao menos uma bolacha assim como faziam aquelas crianças, de modo furtivo e apressado… aí, não há como resistir. Hummm…

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Foto: Bolacha e Café de Lúcia Resende


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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