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BRECHT: “NENHUMA RESPOSTA SENÃO A SUA!”

“Aos que hesitam, você diz: Nenhuma resposta, senão a sua”

Por Bertolt Brecht

Você diz:
Nossa causa vai mal.
A escuridão aumenta. As forças diminuem.
Agora, depois que trabalhamos por tanto
Estamos em situação pior que no início.

Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca.
Sua força parece ter crescido.
Ficou com aparência de invencível.
Mas nós cometemos erros, não há como negar.
Nosso número se reduz.
Nossas palavras de ordem
Estão em desordem. O inimigo
Distorceu muitas de nossas palavras
Até ficarem irreconhecíveis.
Daquilo que dissemos, o que é agora falso:
Tudo ou alguma coisa?
Com quem contamos ainda?
Somos o que restou, lançados fora
Da corrente viva? Ficaremos para trás
Por ninguém é compreendido e
não há ninguém compreendendo?
Precisamos ter ?
Isto você pergunta. Não espere.
Nenhuma resposta senão a sua.
 
Bertolt Brecht – (1898 a 1956)
 
"NENHUMA RESPOSTA SENÃO A SUA!"
Foto: Wikipedia
 

Bertolt Brecht (1898-1956) foi um dramaturgo, romancista e poeta alemão, criador do teatro épico anti-aristotélico. Sua obra fugia dos interesses da elite dominante, visava esclarecer as questões sociais da época.

Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro do século XX, não só pela criação de uma obra excepcional, mas também pelas inovações teóricas e práticas que introduziu.

Euger Berthold Friedrich Brecht (1898-1956) nasceu em Augsburg, no estado da Baviera, na Alemanha, no dia 10 de fevereiro de 1898. Começou a escrever ainda jovem, publicou seu primeiro texto em um jornal em 1914.

Interrompeu seus estudos de Medicina em Munique para servir como enfermeiro em um hospital durante a Primeira Mundial (1914-1918).

Início de carreira

De volta à Munique, Brecht iniciou sua carreira teatral e literária. A paixão pelo teatro impulsionou a vida de Brecht. Sua obra teatral atravessou diversas fases que se distribuem segundo os locais de permanência do autor.

Primeiro período

Nesse primeiro período, enquanto se encontrava na Baviera, escreveu peças que focalizavam os conflitos do indivíduo em relação ao meio social, são elas:

  • Tambores na Noite (1922)
  • Baal (1922)
  • Vida de Eduardo II da Inglaterra (1923)
  • Na Selva das Cidades (1924)

Em 1923, Bertolt Brecht casou-se com Marianne Zoff, com que teve uma filha.

Segundo período

Em 1924, Brecht mudou-se para Berlim, onde se engajou no Deutsches Theater e foi assistente dos diretores Max Reinhardt e Erwin Piscator.

Duas peças se destacaram como transição do expressionismo para o niilismo iconoclasta, são elas:

  • O Homem é um Homem (1927)
  • A Opera dos Três Vinténs (1928)

As obras são comédias satíricas, em parte musicadas, nas quais a crítica à sociedade burguesa é mais anárquica do que na fase anterior.

A “Ópera dos Três Vinténs”, que fez grande sucesso e tornou Brecht internacionalmente conhecido, foi criada com a colaboração do músico Kurt Weill.

Em 1929 Bertolt Brecht ingressou no Partido Independente Socialista. Nesse mesmo ano, surge “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, também com de Weill, que marcou definitivamente sua conversão ao teatro político.

São ainda desse período as peças:

  • A Medida (1930)
  • Santa Joana dos Matadouros (1930)
  • Aquele Que Diz Sim e Aquele Que Diz Não (1930)
  • A Mãe (1930).

Terceiro período

O terceiro período da obra de Brecht foi marcado por seu exílio diante da perseguição nazista. Brecht exilou-se sucessivamente na Suíça, em Paris, Dinamarca, Finlândia e, por fim nos , onde permaneceu por seis anos.

As obras desse período são mais elaboradas e as que melhor representam suas teorias do “teatro épico” e do “efeito do distanciamento” na representação.

As peças mais conhecidas dessa época são:

  • Terror e Miséria do Terceiro Reich (1935)
  • Os Fuzis de Senhora Carrar (1937), sobre a guerra civil na Espanha
  • A Vida de Galileu (1937).

Ainda desse período é a peça “Mãe Coragem e Seus Filhos” (1941), uma parábola do papel da pequena burguesia no meio de tempestades políticas, considerada por alguns a obra-prima de Brecht.

Em 1947, dois anos após a Segunda Guerra Mundial, acusado de atividades antiamericanas, foi forçado a voltar para a Alemanha. Em 1948 publicou o livro “Estudos Sobre Teatro”, que apresenta a teoria do teatro épico.

Em 1949, com o apoio do governo da Alemanha Oriental, Bertolt Brecht fundou sua própria companhia de teatro a “Berliner Ensemble”, que produziu suas últimas peças.

"NENHUMA RESPOSTA SENÃO A SUA!"

O Poeta

A obra poética de Bertolt Brecht é menos conhecida que a obra teatral, mas não menos importante. Sua está representada no “Livro de Devoção Caseira” (1927), de sua fase iconoclástica, e em “Poesias de Svendborg” (1939).

Brecht escreveu poemas líricos de forte ironia e sutileza emocional em que ele mesmo, o indivíduo Bertolt Brecht, ocupa o lugar principal. O mais famoso poema de Brecht é o autobiográfico “Do Pobre B.B”.

Bertolt Brecht faleceu em Berlim, Alemanha, de ataque cardíaco, no dia 15 de agosto de 1956.

Frases de Bertolt Brecht

  • “Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso.”
  • “Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.”
  • “Inteligência não é não cometer erros, mas saber resolvê-los rapidamente.”
  • “Que continuemos a nos omitir da é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.”
  • “Em vez de serem apenas bons, esforcem-se para criar um estado de coisas que torne possível a bondade, em vez de serem apenas livres, esforcem-se para criar um estado de coisas que liberte a todos!”
 
 
 
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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