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Café musical especial

Café musical especial

Café musical especial

Parei pra tomar um café e ver a banda tocar. Está iniciada a celebração de um ciclo que se inicia com uma semente, muito bem cuidada e selecionada. Desponta uma árvore pequena, mas cheia de frutos…

Por Gabriel Palmés

Amadurecidos, chega a colheita para que os mestres torrem cada cereja de forma a entregar os aromas mais intensos possíveis. Os especialistas exercem sua a cada lote que passa por suas mãos.

Já na loja a banda prepara a cerimônia. Os músicos da cozinha rufam os tambores das panelas e dão a entrada. A barista anuncia a melodia extraindo doces aromas numa xícara cheia de . O grupo do atendimento dança e se entrega junto à , servindo os pratos.

Vai começar o solo. Um primeiro gole e se instaura uma explosão sensorial, seguido de uma garfada percussiva. O ápice está a pleno vapor e perdura enquanto não aparece o fundo do prato e da xícara.

Eis então que começam a ficar evidentes as cores do prato e a peça começa a chegar ao final. O anseio pela satisfação já pode voltar realizado de onde veio e contar a sua , mas não sem antes deixar uma salva de palmas enquanto a banda continua seu espetáculo.

Fotografia de Dani Neves em Marilda café
Fotografia de Dani Neves em Marilda Café

Gabriel Palmés – brasiliense, barista, cientista político e amante das coisas verdadeiras.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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