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CARNE CHEIA: UM JEITO ANTIGO DE PREPARAR SUÍNOS

CARNE CHEIA: UM JEITO ANTIGO DE PREPARAR SUÍNOS

Carne cheia: Um jeito antigo e delicioso de preparar a carne suína

Houve um em que a luz elétrica não existia na zona rural. Tempo de lamparina, de candeia, de luz fraca, fumacenta. No máximo, um lampião a querosene.

Por Lúcia Resende

Pois é deste tempo o costume de guardar carne na lata, na banha, porque geladeira só existia mesmo na cidade. De freezer nem se falava.

De regra, a carne vinha do galinheiro, do chiqueiro e do mangueiro. Uma de cada vez. Peixe também, se a terra fosse perto de rio, como era o nosso caso.

Ali, nas margens do Rio Grande, comíamos dourado, jaú, pintado, piau, piapara, lambari… Mamãe era exigente e, naqueles tempos de fartura, os outros ela dispensava. Traíra, papa-terra, caranha, pacu, cascudo, piranha, estes nem pensar!

Em nossa casa mineira, o frango caipira era frequente, mas obrigatório mesmo era quando chegava visita. Aí era “estumar” o , pegar o frango, depenar, sapecar na palha de milho, cortar e preparar o molho no fogão a lenha.

Fora isso, alternadamente, abatia-se uma novilha e depois um “capado”, que é o porco castrado e submetido a regime de engorda.

No caso da novilha, preparava-se parte da carne, fazia-se muita linguiça “cuiabana”, que ficava defumando dependurada em cima do fogão, mas a maior parte era salgada e colocada ao sol para secar.

Assim era possível conservar a carne por longo período, até que terminasse o último pedaço. A carne era sempre feita junto com arroz (carreteiro), mandioca (quibebe) ou macarrão. Finda a carne de vaca, era hora de abater o porco.

Com a carne suína o procedimento era semelhante, com algumas variações, mas um preparo era obrigatório: a carne cheia!

Pronta, a carne cheia ficava na própria gordura, junto com a carne de osso, e os pedaços eram retirados, requentados na hora do consumo. Uma delícia!

É esta que trazemos hoje, adaptada em quantidade menor, lembrando que não é pra ser consumida com frequência, mas vez ou outra. Afinal, é muita gordura…

CARNE CHEIA

Cerca de
2,5 kg de pernil de porco. Pedir ao açougueiro para separar as peças, para rechear.

500 gramas de carne suína moída (ou bovina moída com um pouquinho de toucinho)

1 kg de toucinho picado

Sal, alho, pimenta do reino e bode (de cheiro)

MODO DE FAZER

Em uma panela grande, frite o toucinho. Separe os torresmos, deixando a gordura, e reserve. Tempere bem a carne moída com alho, sal, pimenta do reino e de cheiro.

Com uma faca afiada, faça uma cavidade em cada pedaço da carne, de modo que se possa colocar o recheio. É preciso cuidar para que no início a abertura seja a menor possível e só se alargue no interior da peça de carne, isso evita que o recheio saia quando começar o cozimento.

Com jeito, vá colocando a carne moída temperada pela cavidade aberta, até encher bem. Cheios os pedaços de carne, tempere com 2 ½ colheres de sal (aproximadamente) e 2 dentes de alho amassados.

Em seguida, coloque tudo na panela com a gordura já morna, acrescente água até cobrir a carne e deixe cozinhar, virando de vez em quando, até que, ao espetar um garfo e puxar, a carne desfie.

Durante o processo, provar e regular o sal. Se preciso, colocar mais água, aos poucos.

Depois de cozida, deixar fritar a carne, virando, até dourar por completo.

Retirar da panela, escorrer, fatiar e servir.

Como acompanhamento, é indispensável arroz e feijão. Além disso, vão bem angu de milho verde, mandioca, abóbora, fatias de abacaxi ou o que mais a imaginação permitir.

Obs.: A sobra deve ser guardada inteira, sem fatiar, na gordura. Para servir em outra refeição, levar ao , acrescentando um copo de água.

Bom apetite!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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