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Castanheira-do-Brasil: Entre a vida e a morte

Castanheira-do-Brasil: Entre a vida e a morte

Há sete anos venho trabalhando com pesquisaa arqueológica no âmbito do licenciamento ambiental, e em todo esse tempo tive o privilégio de conhecer alguns estados da Amazônia brasileira, entre eles Acre, Rondônia e Pará, percorrendo diversas paisagens, entre florestas, montanhas e pastagens.

Durante o trabalho, sempre realizo o registro fotográfico das paisagens por onde passo. Em uma das viagens, em junho de 2016, percorri uma boa extensão de áreas rurais de alguns municípios nas margens da rodovia transamazônica, entre elas Pacajá e Novo Repartimento, no estado do Pará. Observei diversas castanheiras isoladas, de todas as formas e tamanhos, lutando por sua sobrevivência em meio ao avanço do desmatamento e das pastagens.

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Comecei, então, a fotografar diversas castanheiras.

Tento, assim, expor o contraste entre a vida e a morte da castanheira-do-Brasil, entre o avanço do “progresso” e o desenvolvimento econômico, em detrimento da destruição da árvore-símbolo de uma floresta.

Em cada estrada percorrida, em cada curva ou trilha, o que se vê é uma imensa solidão de árvores que anseiam por suas florestas e, não suportando mais o isolamento, se entregam à morte.

Por isso, é uma solidão que mata, e o que resta são somente verdadeiros cemitérios de castanheiras.

A castanheira-do-Brasil (Bertholletia excelsa), árvore alta e de beleza única, encontrada exclusivamente no bioma Amazônia, vem sofrendo com o desmatamento desenfreado e o aumento das áreas de pastagem. Algumas castanheiras ainda resistem, apesar de todo o impacto, em meio à imensidão das áreas desmatadas, enquanto que de outras resta somente o seu esqueleto, de cor cinza, às vezes esbranquiçada, lembrando ossos totalmente desprovidos de vida.

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ANOTE AÍ:

Fernando José Cantele
Graduado em História, com formação complementar em arqueologia, cursando especialização em Cultura Material e Arqueologia. Atua há oito anos com arqueologia preventiva no âmbito do licenciamento ambiental.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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