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Chico Mendes

O assassinato de Chico Mendes e o Leviatã de Temer

O assassinato de Chico Mendes e o Leviatã de Temer

Em 1988 tivemos dois fatos importantes. Um extremamente positivo e outro muito negativo.

O acontecimento positivo foi a promulgação da Cidadã, em 05 de outubro, por Ulisses Guimarães, do PMDB. A Carta Magna foi fruto de um processo de luta contra a ditadura militar, pela redemocratização do Brasil.

Em 22 de dezembro daquele ano, vivemos outro fato importante, porém negativo, extremamente grave: o assassinato de Chico Mendes, trabalhador rural, líder sindical seringueiro e dirigente da CUT.

Aquela violência praticada contra Chico Mendes pelo latifúndio, pelos grileiros que queriam tomar a terra e destruir a floresta, apesar de nos tirar um grande amigo, lutador incansável reconhecido mundialmente pela sua atuação em defesa do meio ambiente e dos , nos motivou pelo exemplo e pela militância do companheiro que nos foi arrancado a prosseguir lutando, espelhados na sua coragem e no seu desejo de uma digna para trabalhadoras e não somente a Amazônia, mas de todo o país.

O assassinato de Chico Mendes àquela época significou uma violência contra o estado de direito então já estabelecido pela Constituição Brasileira.

Atualmente, é o Estado, o leviatã de Temer que atinge com violência o direitos dos trabalhadores.

Principiou pelo golpe parlamentar que destituiu a presidenta eleita , articulado pelos setores empresariais, financiado pelo capital financeiro e petrolífero mundial.

Após instalados no Palácio do Planalto, o golpista e seus asseclas prosseguem em suas intenções de destruir direitos e rasgar a Constituição. Começou com a aprovação de uma emenda à Constituição, a PEC da morte, lamentavelmente apoiada pela grande maioria dos parlamentares de , seja na Câmara ou no Senado.

A única representante da capital federal que se opôs ao golpe e as suas consequências foi a combativa companheira Erika Kokay, ex-presidente do e ex-presidente da CUT Brasília. A PEC da morte congela pelos próximos 20 anos, praticamente o mesmo período da ditadura militar, os investimentos e recursos para o setor público.

A seguir os mesmos golpistas que perderam a eleição nas urnas (PSDB, PMDB e DEM), apresentam uma reforma da previdência. O Temer e o Meireles já tinham extinguido o ministério da Previdência.

 

Agora querem extinguir a própria previdência, acabando com as aposentadorias sem qualquer respeito com aqueles que trabalharam, trabalham e trabalharão para construir uma nação que deveria ser minimamente justa para com os que produzem.

Desconsiderando qualquer dignidade, e atendendo aos interesses dos capitalistas e das previdências privadas, os golpistas do Executivo e do Legislativo querem acabar com a previdência pública e colocá-la na mão do capital financeiro, extorquindo mais e mais o trabalhador brasileiro. Sem esquecer que as trabalhadoras serão as mais prejudicadas com as regras propostas.

Mas tudo isso ainda não era suficiente. Hoje, 22 de dezembro, dia que marca os 28 anos do assassinato de Chico Mendes, nos mesmos moldes articulados pelo fazendeiro Darly Alves da , de tocaia, o governo às vésperas do Natal, apresenta uma reforma trabalhista que liquida com os direitos dos trabalhadores.

Pergunta-se: Qual a diferença dos assassinos de Chico Mendes e desses  destruidores de direitos, que liquidam a possibilidade de vida digna para trabalhadoras e trabalhadores? Quantos brasileiros serão mortos a partir das reformas impostas sem ouvir a população? Eles rasgam a Constituição, promovem sua desconstrução, acabando com a CLT e com a aposentadoria sem qualquer ética ou respeito.

A reforma trabalhista descaradamente anunciada pelo usurpador é o coroamento do ano do leviatã do Temer e seus asseclas que, a partir das definições de ministérios já demonstrou a que veio.

Para aqueles órgãos superiores da administração pública que não extinguiu, nomeou pessoas dispostas à prática de atividades criminosas contra a população: Podemos citar o caso do ministério da Justiça, onde está alguém de passado duvidoso, que alterou completamente a atuação da segurança pública no país.

 

Exemplos de agressões e violências praticadas contra aqueles que ousam manifestar sua indignação não faltam: No Rio Grande do Sul, a Brigada Militar ataca ferozmente os manifestantes que lutam contra a destruição de instituições públicas; no Rio de Janeiro as barbaridades são cometidas contra servidores públicos, incluindo aposentados,  que não recebem salários e que tentam manter seus direitos.

Em Brasília estamos praticamente impedidos de realizar qualquer manifestação. A Praça dos Três Poderes não é mais lugar para o povo expressar seu descontentamento, sua indignação. Aquele espaço se tornou símbolo ditatorial não somente pelo impedimento de manifestação, mas também porque ali se concentram os três Poderes da República que neste momento, à revelia da população, impõem os interesses dos capitalistas nacionais e internacionais.

O governo golpista de Temer age da mesma maneira, de tocaia, que os assassinos de Chico Mendes e de incontáveis outros líderes sindicais que perderam sua vida Brasil afora, em defesa dos direitos e da dignidade de seu povo.

A reforma trabalhista, uma verdadeira emboscada na semana do Natal, propõe o de 12 horas diárias, o imperativo do negociado sobre o legislado. E ainda há centrais sindicais, cujos líderes se dizem representantes sindicais de, concordando com mais esse ataque vergonhoso.

Essa situação exige a reação popular, a resposta firme e decidida do movimento sindical comprometido com trabalhadoras e trabalhadoras. Esta é a hora de organizarmos uma grande greve geral contra todas essas medidas anti-povo, contra o trabalhador e que se opõem violentamente contra o país. Reagir imediatamente é preciso.

 

ANOTE:

Foto de Capa de Denise Zmekhol, conforme da autora, a quem agradecemos a compreeensão pelo uso original sem crédito (por desconhecimento nosso) e o direito de uso nesta matéria, a nosso ver relevante para se fazer justiça à memória e ao legado de Chico Mendes. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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