Cidades “mortas”!
Por Weider Abreu – Membro da Alaneg – Academia de letras e Artes do Nordeste Goiano
Cidades mortas ! Depois de vários dias afastado do trabalho, recluso em casa, longe da academia, dos amigos e visitando pouco minha mãe para protegê-la do vírus que nos apresenta a morte; eu acordei, meditei e senti o quanto a falta do contato humano despertou a necessidade de desenvolver em mim a humanidade. Percebi como está sendo preciso as cidades “morrerem” para que a vida possa se manifestar em um novo ideal. As cidades estão morrendo para pressa do capital, da matéria, estão morrendo para frear a poluição, morrendo para nós pararmos e observarmos o outro e a nós mesmos… E foi nesse momento que nenhuma grande capital do mundo com sua sedução me deu abrigo, e foi nesse momento que nenhum bem material me deu acolhimento… Pensei e refleti que nem meus amigos e familiares estavam transmitindo calor para o frio que sentia… E foi nesse mesmo momento à deriva que me aportei em uma casa de acolhimento para adolescentes e ali me senti seguro. Conheci o Teodoro, menino que tinha chegado na noite anterior e iria ser levado pelo conselho tutelar para sua cidade natal, no interior da Bahia. O sorriso tímido dele me acolheu e fomos conversar sobre a vida. Eu achando ele um guerreiro por ter passado uma infância sofrida e sem afeto dos pais, vivido o desamparo das ruas de Salvador no início da adolescência, o abandono da escola que não o percebeu como um jovem que buscava um olhar de afeto verdadeiro. Já o Teodoro vibrava quando eu contava minhas aventuras de mochilão pela Patagônia, pelas ruas de Paris, pelos bairros de Barcelona, pelos metrôs de Berlin e pelas praias da Califórnia… Encontramos abrigo no desabrigo, empatia enfim. Já no término daquele encontro chegou o conselho tutelar. Teodoro levantou e me pediu um abraço. E claro que, mesmo não podendo abraçar por motivo das cidades mortas, eu arrisquei e o abracei! Ele nunca tinha viajado para fora da Bahia e aquela tinha sido a primeira vez que saia do seu estado. Eu o elogiei e o encorajei para buscar um futuro melhor… e ele me disse já seguindo com o conselho tutelar: “eu nunca vou esquecer do senhor!!! O senhor me deu conselhos que meu pai nunca me deu !!! Um dia a gente vai se encontrar aí pela vida. Obrigado!!” E eu disse: “eu que agradeço,Teodoro, pela força que me deu e coragem de dizer não para o caminho do mal”… Quantos Teodoros encontrei nessa vida? Quantos vi e quantos apenas enxerguei? Eu acho que nunca mais irei encontrar esse Teodoro, mas também nunca vou esquecê-lo. Sai da casa de acolhimento, mas dessa vez a casa de acolhimento não saiu de mim. Que encontro acolhedor, encontro não marcado, encontro sem preconceitos e julgamentos… Entrei no meu carro, olhei para as ruas vazias e sem ninguém… A cidade estava “morta” pelo medo do contágio do vírus, mas percebi que o vírus que mais mata é o vírus da indiferença. Cidade morta.
Weider Abreu – Eu sou Weider Rocha de Abreu, Goiano de Formosa . Formado em Letras – UEG Especialista em Lingua e Literatra pela UEG, Mestre em Linguística pela UNB, Psicanalista clínico pela Associação de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – Abepp – Brasília, Professor da SEEDF, membro da ALANEG e do projeto Neuroses Masculinas.
Fonte: WhatsApp da Alaneg
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