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Clarice Lispector: A corrida para “pegar a hora”

Muito bonito, este texto de Clarice:

“A pontualidade é um hábito que repousa. Se você estiver sempre correndo para alcançar a hora, estará em contínuo de tensão.

Saber que você está  “a ” dar-lhe-á uma sensação de calma e . Mas veja o que lhe acontece quando subitamente você olha para o e descobre que vai chegar muito atrasada: o pequeníssimo choque faz com que retese os músculos.

Quem está sempre atrasada, paga, sem saber, um preço: uma constante, mesmo que leve, insatisfação consigo própria.

Sem falar na exaustão que vem de tanto correr “para tirar o  pai da forca”. E sem falar no ar afobado – e desagradável para os outros.

E tudo isso porque alguns minutos não lhe pareceram importantes – e subitamente lhe pareceram importantíssimos.”

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CLARICE LISPECTOR

Escritora brasileira (por naturalização), pernambucana (por autodeclararão), nascida na Ucrânia, em 1920.  Escreveu romances, contos e ensaios, em sua maioria sobre cenas cotidianas simples e momentos leves do dia-a-dia.

Chegou ao Brasil  em 1922, fugida da Civil Russa, com dois anos de idade. Depois de um breve período em Maceió, a família de Clarice mudou para Recife, onde viveu até os 14 anos de idade. Daí, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito, trabalhou como tradutora e se consagrou como escritora e jornalista.

Perto do coração selvagem foi seu de estreia. A hora da estrela e Um sonho de foram seus últimos livros publicados.

Clarice partiu desse em 1977, no Rio de Janeiro, vítima de um câncer, um dia antes de completar 57 anos.

clarice-pinterest

FRASES DE CLARICE LISPECTOR

“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito ”.

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite”.

“Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso. E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é vulcão.”

-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

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os três posts internos desta matéria foram extraídos da Internet.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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