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CONCEIÇÃO FOI GUERREAR NO CÉU

Conceição foi guerrear no céu

Em memória de Maria da Conceição Tavares, mestra do desenvolvimento com justiça social, a mais brasileira de todas as portuguesas.

CONCEIÇÃO FOI GUERREAR NO CÉU

Por Zezé Weiss

Bocuda, irônica, sarcástica, imagino Conceição reagindo bem-humorada ao título desta matéria: “Que babaquice é essa de guerrear no céu? Existindo ou não o céu, o fato é que Maria da Conceição Tavares embarcou, neste 8 de junho de 2024, nas asas da quimera, para fazer morada nos insondáveis mistérios dos labirintos do infinito.

Convivi com Conceição nas militâncias do PT. Dava gosto de ouvir aquela mulher que, carismática, enchia uma sala inteira, quase sempre repleta de homens, que expunha seu pensamento com clareza, com frases ácidas e diretas, sem se deixar calar e muito menos interromper. Com Conceição na roda, nem precisa dizer que “cala boca já morreu”.

Nós, mulheres do PT, mulheres de esquerda, mulheres progressistas, mulheres brasileiras, devemos muito a essa companheira que abriu picadas, que fez valer a máxima mobilizadora de que “lugar de mulher é na política ou onde ela quiser.” Para homenagear Conceição, “uma das mió”, como diria o grande Rosa, compartilhamos algumas das dezenas de expressões solidárias das pessoas que tiveram o privilégio de conhecer Maria da Conceição Tavares.  

Presidente Lula: Maria da Conceição Tavares foi professora, deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores, economista e matemática, uma das maiores da nossa história. Nascida em Portugal, adotou o Brasil e nosso povo com o seu coração e paixão pelo debate público e pelas causas populares. Foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social. Formou gerações de economistas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou no BNDES, em projetos importantes para a do nosso país e com a CEPAL em defesa do desenvolvimento da América Latina. Escreveu centenas de artigos e muitos livros. Até hoje suas aulas são consultadas pelos jovens em vídeos na internet, pela sua fala franca e direta. Tive o prazer e a honra de conviver e conversar muito com minha amiga ao longo dos anos, debatendo o Brasil e os nossos desafios sociais no Instituto Cidadania, em conversas no Rio de Janeiro ou em viagens pelo Brasil. Nesse momento de despedida, meu sentimento aos familiares, em especial aos filhos, aos muitos amigos, alunos e admiradores de Maria da Conceição Tavares.

Adrieli: Viver 94 anos, fumando feito uma chaminé, dando aula com o ódio que a burguesia merece, não é pra qualquer uma. Muito obrigada, Maria da Conceição Tavares!

Aloizio Mercadante: Perdemos hoje uma gigante do pensamento brasileiro e mundial. Recebo com profunda tristeza a notícia da morte da minha querida amiga e mestra Maria da Conceição Tavares, a mais brasileira de todas as portuguesas. Com densa formação intelectual e profunda coragem, Conceição teve uma vida de compromissos com a democracia, com o desenvolvimento, com a distribuição de renda, com a justiça social e com o enfrentamento do neoliberalismo. Debatedora perspicaz, contundente e de formação heterodoxa, defendeu em sua vasta obra que a economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação. Na Cepal, desenvolveu contribuições originais para a análise das características e singularidades da economia brasileira e latino-americana. Convivemos muito de perto por diversas ocasiões, quando a ajudei, por exemplo, na construção de sua tese “Ciclo e Crise: o movimento recente da industrialização brasileira”, em 1977, e na vitoriosa campanha de Conceição à deputada federal em 1994. Ainda, quando tive o prazer de contar com Conceição como minha assessora no Senado Federal, em 2003. Sem falar dos vários anos em que dividimos a coluna “Lições Contemporâneas” na Folha de S. Paulo. Não poderia deixar de mencionar a imprescindível contribuição de Conceição para a construção do BNDES, instituição na qual ela entrou concursada em 1958 e que, atualmente, presido. Em março deste ano, na comemoração do Dia Internacional das Mulheres, realizamos uma homenagem à Conceição na sede do BNDES. Destaco também que Conceição ajudou na concepção e na implantação do Plano de Metas. Neste momento de tristeza incomensurável, deixo meu abraço fraterno e minha solidariedade para os filhos, amigos, familiares, discípulos e, especialmente, aos ex-alunos e estudantes de economia, que perdem hoje uma referência intelectual de integridade e de compromisso com o Brasil e com o povo brasileiro.

Célia Xacriabá: Maria da Conceição Tavares nos deixou hoje, aos 94 anos. Grande economista, defensora da justiça social, o seu legado jamais será esquecido. “A economia que não se preocupa com a justiça social, é uma economia que condena os povos a uma brutal concentração  de renda entre a riqueza, o desemprego e a miséria”, nos ensinou Maria da Conceição Tavares.

Cesar A. N. Floyd: Maria da Conceição Tavares deu muita lapada no espinhaço dos tecnocratas de botequim.

CUT Brasil: Maria da Conceição Tavares, presente!

CONCEIÇÃO FOI GUERREAR NO CÉU

 

Dilma Rousseff: É com grande pesar que recebo a notícia da morte da economista Maria da Conceição Tavares. Meus sentimentos à família e aos muitos amigos e alunos. Todos ficamos tristes pela sua passagem. Uma das mais importantes e influentes intelectuais do nosso tempo, Maria da Conceição amou profundamente o Brasil e o povo brasileiro, tendo sido uma das grandes pensadoras sobre o destino do país, os rumos da nossa economia e os caminhos para o desenvolvimento com Justiça Social. Minha amiga e professora era uma mulher brilhante e profundamente comprometida com soberania nacional, tendo atuado decisivamente na construção de um Brasil menos desigual. Era uma portuguesa que veio para o país ainda criança e virou uma brasileira de coração e de compromisso firme com o nosso povo. Minha companheira de lutas e sonhos. Maria da Conceição Tavares, presente!

Eduardo Suplicy: O Brasil perdeu hoje uma mulher extraordinária. Maria da Conceição Tavares morreu, aos 94 anos, deixando um legado importante para o pensamento econômico brasileiro. Ela tornou-se célebre não só pelo vigor de seu pensamento, mas pela paixão com que defendeu seus pontos de vista, sempre procurando identificar os interesses da grande maioria da população. Meus sentimentos aos familiares e amigos.

Emicida: Obrigado, Professora!

Fernando Haddad: Maria da Conceição Tavares deixa um rico legado. Seu pensamento, sua crítica e sua defesa inegociável da justiça social será sempre uma estrela-guia para o pensamento econômico brasileiro.

CONCEIÇÃO FOI GUERREAR NO CÉU

 

Gleisi Hoffmann: Maria da Conceição Tavares foi, acima de tudo, uma mulher corajosa, que colocou sua inteligência e conhecimento a serviço da transformação social de nosso país (…). Com muito orgulho, o PT teve Maria da Conceição entre nossas filiadas e em nossa bancada na Câmara Federal. É uma grande perda, especialmente neste momento em que o Brasil precisa de vozes em defesa do desenvolvimento econômico, como ela sempre se destacou.

Inês Nascimento: Perdemos hoje mais uma guerreira de esquerda. Nascida em Portugal, escolheu o Brasil como seu país. Professora, economista, e uma das grandes guerreiras dos quadros do PT.

Ivana Lima: Eu amo que ela nunca deixou ninguém interrompê-la. Perdemos uma mestra.

Janja Lula: Obrigada, Professora Maria da Conceição Tavares!

Jilmar Tatto: Sem papas na língua, Conceição mantinha uma análise certeira sobre a política nacional.

Kennedy Alencar: Era uma força da natureza!

Kriska Carvalho: Espalhando a palavra de Maria da Conceição Tavares, que partiu hoje. Única, admirável, lúcida e uma língua sempre certeira: “A economia que não se preocupa com a justiça social é uma economia que condena os povos a isso que está acontecendo no mundo inteiro, uma brutal concentração de renda e de riqueza, o desemprego e a miséria (…) Isso é coisa de tecnocrata alucinado, que acha que tudo está okay, e nada está okay.”

Luna Zarattini: Grande perda para o pensamento brasileiro. Uma das vozes mais contundentes na crítica ao liberalismo. Seu legado continuará vivo!

Marcio Pochmann: A mestre do desenvolvimento com justiça social que jamais desistiu do Brasil. A professora Maria da Conceição Tavares deixa uma trajetória exemplar de educadora engajada no que de melhor o pensamento crítico gerou no Brasil. Intelectual comprometida com a transformação nacional, ousou diuturnamente enfrentar a ditadura civil-militar, constituído parte integrante do movimento da democratização do país (…).

Miguel Rossetto: Profunda tristeza com a morte de Conceição Tavares. Brincava e a chamava de nossa Duquesa Vermelha. Tive a honra de conviver com a Conceição, quando deputado federal, e morar ao lado, no mesmo prédio, em Brasília, o que me permitiu madrugas e madrugas de conversas que eram aulas (…).

Nísia Trindade Freitas: Vinha de Portugal e já sabia do tamanho do Brasil.

Renato Freitas: Morre hoje Maria da Conceição Tavares, uma das maiores economistas do Brasil e ex-deputada federal pelo PT. Famosa por seus discursos ácidos, e por ter a coragem de expressar as mazelas deste país, sem papas na língua.

Sâmia Bonfim: O Brasil perdeu hoje Maria da Conceição Tavares, uma grande mulher, defensora da justiça social.  Como economista, sempre combateu a “tecnocracia” e as falácias do liberalismo.

Sonia Guajajara: Um dia triste, em que perdemos uma grande referência de luta.

Sérgio Santos Lourenço: Mulher extraordinária. Sem papas na língua, foi crítica contundente dos economistas que serviram aos governos liberais. Deixa um legado importante ao pensamento econômico e sempre lutou por uma maior justiça social.

Silvio Almeida: Hoje o Brasil se despede de Maria da Conceição Tavares. Suas lições permanecem fundamentais para a construção de um Brasil que saiba cuidar do seu povo. Obrigado, professora.

Conceicao Ricardo Stuckert

 

MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES

Nascida em 24 de abril de 1930, em Anadia, no Aveiro, Portugal, cresceu num lar de mãe católica e pai anarquista, que abrigou refugiados da Guerra Civil Espanhola, durante a ditadura de Antonio Salazar.  

Formou-se em Matemática em 1953 pela Universidade de Lisboa. Em 1954, mudou-se para o Brasil, fugindo da ditadura fascista de Salazar. Em 1957, conquistou a cidadania brasileira e ingressou no curso de Economia na então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Formou-se em Economia em 1960 e já em 1968 foi designada para o escritório da Cepal no Chile. Desta época, seu artigo de maior destaque foi o “Auge e declínio do processo de substituição de importação de importações no Brasil”.

No Brasil, foi perseguida pela ditadura civil-militar e chegou a ser presa.  Na década de 1980 e 1990, dedicou-se à vida política e em lecionar do Instituto de Economia da Unicamp (de onde saíram suas vídeo-aulas, que deram origem ao acervo Maria da Conceição Tavares.

Em 1994, elegeu-se deputada federal pelo PT. A partir das décadas de 2000 e 2010, Maria da Conceição passou a fazer palestras esporádicas e depois foi gradualmente retirando-se da vida pública para viver a sua melhor idade.

Recentemente, Maria da Conceição Tavares ficou popular nas redes sociais, depois que vídeos de suas aulas e entrevistas começaram a viralizar na internet.  Morreu em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em 8 de junho de 2024.

Zezé Weiss – Jornalista. Editora da Revista Xapuri. Imagens: Capa – Fernando Brazão/Agência Brasil. Conceição e Lula: Ricardo Stuckert. Foto Conceição/Athos Pereira/Marcus Braga – Anos 1990 – Acervo Athos Pereira.  Demais imagens: Reprodução/Internet.  Fontes dos dados biográficos: Acervo Maria da Conceição Tavares e Brasil de Fato.   

conceicao athos


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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