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Esse Congresso não caiu do céu

Esse Congresso não caiu do céu

Filho feio não tem pai. Parece que ninguém votou para eleger esse Congresso, ninguém financiou suas milionárias campanhas, ninguém influenciou a opinião pública, que deu nesse Congresso.

O Congresso tornou-se a Geni. Não presta, não tem credibilidade, são corruptos, defendem seus próprios interesses. Contribuem decisivamente, junto com esse governo de turno, para desmoralizar a política, para que as pessoas se desinteressem pela política.

Mas quem os elegeu? Quem ganha com sua desmoralização?

As grandes empresas privadas que financiaram suas campanhas têm uma lógica clara: ter no Congresso quem defenda seus interesses. Quando financiam campanhas, estão investindo em mandatos, que devem lhes dar retornos. Quando a Odebrecht confessou que financiou 140 deputados, elegeu uma bancada sua, comprou seus mandatos, com parlamentares que não representam os interesses do povo, do país, mas das empresas que pagaram para elegê-los.

O financiamento privado de campanha deveria ser crime, era legalizado e até talvez possa seguir sendo assim, mesmo que de maneira menos aberta. Esses são em parte responsáveis por esse Congresso. E os que se opuseram aos fundos públicos, contribuíram para que esse sistema pudesse continuar como foi até aqui.

Mas outro grande fator são os meios privados de comunicação que, com seus monopólios, não apenas não contribuem para a consciência da população, difundindo quem são, que interesses defendem, que aprovação rejeitaram nos seus mandatos, não promovem debates abertos, pluralistas. Mas também na sua ação cotidiana, contribuem fortemente para a despolitização, a alienação das pessoas.

Quando a mídia faz campanha contra a política, propaganda que todos os políticos são corruptos, promove o desinteresse pela política, trata de passar a ideia de que todos são iguais. Com isso favorece a despolitização, a possibilidade de que as pessoas votem por qualquer um ou até votem por interesses particulares.

As imensas bancadas dos ruralistas, da bala, da educação privada, dos planos privados de saúde, dos evangélicos, ocupam grande parte do Congresso e são responsáveis por essa indecência do Parlamento. Mas para que eles estivessem lá foi preciso o financiamento privado, a despolitização da mídia, a ação daquelas corporações para eleger suas bancadas.

Mas há um fator que tem a ver com o campo popular. Mesmo por pequena diferença, Dilma Rousseff conseguiu se reeleger, o que quer dizer que o projeto dos governos do PT conseguiu manter sua maioria, mas isso não se refletiu nas eleições parlamentares. Significa que os partidos de esquerda, os movimentos sociais, todos os que compõem o campo da esquerda não conseguiram sequer manter a composição do Congresso anterior.

Não se conseguiu reeleger uma parte importante dos melhores parlamentares, não se conseguiu eleger nova geração que representasse os jovens, as mulheres, os negros. Os sindicatos não elegeram bancadas que representassem os seus interesses. E cada um de nós não foi capaz de convencer a muito mais gente da necessidade de eleger representantes parlamentares identificados com o governo.

O resultado foi desastroso para a democracia – veja-se o golpe –, para os interesses populares – veja-se os cortes nos recursos para as políticas sociais e nos direitos dos trabalhadores – e para o país – veja-se a liquidação de patrimônio público com as privatizações.

Como diz o ex-presidente Lula, esse Congresso representa a vontade da população no momento da eleição. E naquele momento, a direita, valendo-se do poder do dinheiro, dos monopólios da mídia e das fraquezas do campo popular, produziu esse Congresso, que não caiu do céu.

Resta agora o campo popular ter candidatos e responsabilizar-se pela sua eleição, apoiar a reeleição dos parlamentares de esquerda, promover novas gerações de candidatos, de jovens, de mulheres, de negros, para que o Congresso seja a cara da sociedade e não a cara de Eduardo Cunha, de Michel Temer e de Aécio Neves.

Emir Sader
Sociólogo
Autor do livro “O Brasil que queremos. ”

Obs.: publicado originalmente em 8 de dez de 2017


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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