Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp: 61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia. GRATIDÃO!
O cacique Jurandir Seremramiwe, da etnia Xavante, acompanha online a vacinação do filho Davi, de 8 anos, em São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
‘Que o resto do Brasil também possa vacinar, para que, amanhã, tenhamos alegria e sorrisos’, diz pai da 1ª criança vacinada no país
Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos, recebeu a primeira dose em evento simbólico nesta sexta-feira (14) no Hospital das Clínicas. Nos postos de saúde de SP, campanha de vacinação só começa na segunda-feira (17) para crianças com comorbidades, indígenas e quilombolas.
Por g1 SP — São Paulo
Pai do menino indígena Davi Xavante, de 8 anos, que foi a primeira criança vacinada contra a Covid-19 no Brasil nesta sexta-feira (14), o cacique Jurandir Seremramiwe se disse muito feliz pelo início da imunização infantil no país e espera que o filho dele seja exemplo para outras etnias indígenas, para que incentivem a imunização dos curumins.
“Estou muito feliz de ser pai do Davi. Tomar a primeira dose é exemplo para todas as crianças de 5 a 11 anos. Que o resto do Brasil também possa vacinar, fazer essa campanha para salvar e para que, amanhã, tenhamos alegria e sorrisos. O meu filho Davi Xavante ser o primeiro a tomar [a vacina] é exemplo para os demais povos indígenas tomem. Que o Ministério da Saúde honre e se atualize, para que tenhamos prioridade para nossa criançada”, declarou.
“A saúde em primeiro lugar. Vacina é importante, e que nós tenhamos no futuro a criançada do Brasil 100% vacinada. Estou muito encantado”, completou.
Davi é morador de Piracicaba, no interior de São Paulo, mas está na capital paulista para realizar um tratamento médico, acompanhado do tutora Fernanda Viegas Reichardt, que é pesquisadora. O governador João Doria (PSDB) acompanhou o ato no Hospital das Clínicas, na Zona Oeste da capital.
Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos, da tribo Xavante, primeira criança a receber a primeira dose da vacina contra Covid-19 no Brasil. — Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Evento simbólico
Além de Davi, outras crianças foram vacinadas no evento inaugural, como Gianlucca Trevellin, de 9 anos, que tem atrofia muscular espinhal do tipo 1, Valentina Moreira, de 6 anos, e Caio Emanuel Oliveira, de 10 anos, que realizaram ou estão na fila por transplante de rim, e Isabela, de 9 anos, que tem fibrose cística.
Gianlucca Trevellin, que possui atrofia muscular, é vacinado contra a Covid-19 nesta sexta (14) — Foto: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Graziely de Oliveira, de 8 anos, Leonardo Martinez, de 5 anos, Marcelo Gabriel Moreira, de 10 anos, e Cauê Henrique dos Santos, de 11 anos, que possuem síndrome de Down, também receberam a vacinação durante o evento simbólico. Além de Luiz Felipe Barboza, de 11 anos, que é quilombola.
As vacinas foram aplicadas pela enfermeira Jéssica Pires de Camargo, que também vacinou Mônica Calazans no evento que inaugurou a imunização contra Covid no país.
Lorena Cordeiro, de 7 anos, tem Síndrome de Down — Foto: Reprodução/TV Globo
Vacinação infantil
Enfermeira prepara dose de vacina infantil contra a Covid-19 em evento no Hospital das Clínicas, em São Paulo, nesta sexta (14) — Foto: Reprodução/TV Globo
De acordo com a gestão estadual, a capacidade de vacinação do estado é de 250 mil crianças por dia, podendo este número ser até superior, de acordo com a demanda das famílias paulistas.
O pré-cadastro para vacinação desse público foi liberado na quarta (12). Os pais podem acessar o site do governo paulista (www.vacinaja.sp.gov.br) para inserir os dados da criança e agilizar o atendimento nos postos de saúde do estado.
Em dezembro, a gestão estadual divulgou as imagens da carteirinha de vacinação contra Covid-19 que será usada durante a campanha de imunização de crianças de 5 a 11 anos no estado.
Com o topo amarelo e a hashtag #Vacinajá em letras coloridas, a carteirinha é similar à que é usada no estado para a imunização de adultos e adolescentes.
Carteirinha de vacinação contra a Covid-19 infantil no estado de São Paulo — Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!