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DIREITOS ANCESTRAIS E DIREITOS CONSTITUCIONAIS

Direitos ancestrais e Direitos constitucionais

“A permissividade com que o legislativo e o judiciário brasileiro têm tratado o tema está funcionado como combustível para os ataques de capangas e milícias rurais aos legítimos ocupantes dos territórios”

Por Nilto Tatto/PT 

Não existe na Constituição brasileira a estipulação de uma data específica como base para validar a legitimidade da presença dos indígenas nas terras que tradicionalmente ocupam.

Os direitos desses povos não são apenas ancestrais, pré-constituintes e pré-Estado, na medida em que se consolidaram antes mesmo da chegada dos europeus por aqui, mas também foram reconhecidos tanto na nossa Carta Magna quanto pelo próprio Supremo Tribunal Federal, quando julgou improcedente a tese do .

Logo após o julgamento no STF, no entanto, o aprovou uma série de medidas relacionadas às , ressuscitando a famigerada tese, mesmo que ela já tivesse sido considerada inconstitucional pela Corte.

DIREITOS ANCESTRAIS E DIREITOS CONSTITUCIONAIS

Causa espanto que neste cenário, o ministro Gilmar Mendes não tenha se manifestado pelo cumprimento da decisão, mas pela criação de uma mesa de conciliação entre aqueles que defendem a tese derrotada no próprio Supremo, que defendem a  de terras públicas com os ocupantes legítimos delas, colocando frente a frente o opressor e o oprimido, para negociar em condições absolutamente desiguais.

A primeira audiência de conciliação nesta semana, em , contou com ruralistas e o governo, mas deixou de fora o Ministério Público e diversos representantes de . Enquanto o STF tenta criar uma suposta conciliação sobre uma pauta reconhecidamente inconstitucional, conflitos fundiários se intensificam e ameaçam diversos povos indígenas pelo País.

A permissividade com que o legislativo e o judiciário brasileiro têm tratado o tema está funcionado como combustível para os ataques de capangas e milícias rurais aos legítimos ocupantes dos territórios.

Enquanto você lê estas linhas, no Mato Grosso do Sul a terra Panambi Lagoa-Rica está sob o cerco de grupos de capangas que feriram 10 indígenas a bala, só no último final de semana. No começo do ano, novos ataques de fazendeiros e capangas surpreenderam os Avá-Guarani, na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira (PR), que vem sendo vítimas do mesmo tipo de desde o final do ano passado.

É um tipo de violência que aumenta muito quando o legislativo e o judiciário tentam flexibilizar direitos ancestrais e constitucionais.

Nilto Tatto é deputado federal pelo PT-SP e coordenador da Frente Parlamentar Mista

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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