DONA SILENA CHEGOU PARA BRINCAR

DONA SILENA CHEGOU PARA BRINCAR

DONA SILENA CHEGOU PARA BRINCAR

O que temos em comum entre as florestas do Acre e o Cerrado de Olhos D’Água, povoado localizado no município de Alexânia, aqui em Goiás? 

Por Iolanda Rocha 

Temos muitas belezas: A Amazônia e o Cerrado estão ligados pelas águas, pelos rios voadores, e por pessoas encantadoras como Silene Farias, que nasceu de uma semente no Acre e veio florescer aqui neste nosso povoado em Olhos D’Água, que amorosamente chamamos de Zóim.  

Nesta ciranda, feita pela compositora Keilah Diniz, dona Silene torna-se um ser encantado que veio para brincar.

Aqui chegou, aqui ficou, aqui está

Dona Silena para dançar (bis)

Vai o pinto caipira

Vem o jabuti bumbá (bis) 

Com a saci e toda meninagem

Dona Silena chegou para brincar (bis)

Guiados e guiadas pela energia da ciranda em homenagem a Silene Farias, que se encantou no início deste ano, os foliões e foliãs do bloco PINTO CAIPIRA, desfilaram pelas ruas de Olhos D’água neste Carnaval. 

O bloco mais irreverente, autêntico e original   apresenta a proposta de preservação da natureza e pede uma atenção especial ao Rio Galinha, que assim como grande parte dos rios do Cerrado estão ameaçados pelo agronegócio, pela monocultura da soja e pela criação de gado para exportação. 

A cantora e compositora acreana Áurea Lu envolveu a todos e todas que curtiam o Carnaval em Olhos D’Água. Homenagens ao Pedro Samambaia, o homem dos passarin, e à Maria Preta fizeram parte do belíssimo repertório. Os manos Tancredo e Olivia Maia, também acreanos, ajudaram a embelezar este Carnaval, que nos deixou com gostinho de quero mais.  Dona Silena

O Carnaval é a festa do povo. É o momento no qual as pessoas deixam o sofrimento de lado e esbanjam alegrias e criatividades. É através dele que retornamos à nossa ancestralidade e vivemos como reis e rainhas. É no Carnaval que podemos ser um Pinto Caipira, ou um Jabuti Bumbá, criações de Silene Farias.   

Seja nos blocos que desfilam no interior do Brasil, nas escolas de samba ou nas avenidas de Salvador, Recife, Olinda… as pessoas se engajam numa festa de alegrias, protestos e lutas. A canção interpretada por Daniela Mercury enfatiza bem este sentimento: “Eu queria que esta fantasia fosse eterna, quem sabe um dia a paz vence a guerra e viver será só festejar”. Dona Silena

Que tenhamos muitos carnavais e que possamos viver em um país que respeite a democracia, a diversidade cultural e sexual, que respeite a natureza e que tenha um lugar para todas e todos viverem e festejarem com dignidade. Dona Silena 

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p style=”text-align: justify;”>Iolanda Lula 1 e1682624332475Iolanda Rocha Socioambientalista. Ecofeminista. Conselheira da Revista Xapuri

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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