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Edel Nazaré de Moraes Tenório: vice-presidenta do CNS

Edel Nazaré de Moraes Tenório: vice-presidenta do CNS

A de Edel, essa jovem liderança guerreira das populações tradicionais, está centrada em manter os direitos preservados e em fazer com que governo e comunidade respeitem a tradicionalidade e a dos povos que representa.

Por Iêda Vilas-Boas

Nascida em 1978, em um açaizal no município de Curralinho, no arquipélago do Marajó-PA, Edel Moraes é professora, negra, marajoara, combativa, lutadora, amorosa, amável, dedicada. Competente, reflexiva, solidária, comprometida com suas causas, uma ativista social extremamente sensível aos problemas do próximo.

Filha do Sr. Dudu e da dona Célia, rurais de extrativismo sustentável sempre envolvidos em Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Edel representa muitas lutas: pelos direitos e pelo reconhecimento da , pelos seus muitos companheiros e companheiras extrativistas, pela sustentabilidade do , pela diminuição e aceitação das diferenças entre homens e mulheres, negros e brancos, rurais e urbanos e ainda muitas outras mais.

Criada no Marajó, Edel sabia intuitivamente que somente através da escola é que teria acesso a outros espaços para fortalecer seus sonhos e fazer deles objetivos de vida. Conseguiu e hoje o seu sonho transformou-se em sonho coletivo. Seu sonho estende-se à sua comunidade e às suas batalhas.

Para estudar, na capital paraense, onde concluiu o Ensino Médio em Escola Pública Estadual, foi de babá a empregada doméstica.  Mas a vida deu voltas e trouxe Edel, em 2000, novamente para o Município de Curralinho/PA.

Começou aí seu envolvimento com o movimento social de forma mais efetiva. Em 2001 concorreu e obteve êxito na primeira eleição do Conselho Tutelar do Município de Curralinho, representando o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR, e ali se manteve por dois mandatos, num total de oito anos.

Em 2005 entrou para a Universidade Estadual Vale do Acaraú e, enfrentando muita dificuldade financeira, concluiu, em 2008, o curso de Pedagogia, recebendo na ocasião o título de Honra ao Mérito de melhor aluna da turma. Mais um patamar subido e com muita honra, pois foi a primeira de sua família com formação em nível superior.

Depois veio, em 2009, o curso de Especialização em do Campo, Desenvolvimento e Sustentabilidade, na Universidade Federal do Pará. 

Em 2010, coordenou o Território da do Arquipélago do Marajó. Em 2012 foi eleita no Congresso do CNS para a função de Diretora Nacional, e em 2015 foi reconduzida para mais um mandato, tornando-se a primeira vice-presidenta do CNS. Em 2017, terminou o mestrado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de (UnB). 

Em 2023, Edel foi nomeada para o cargo de Secretária Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável, no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, conduzido pela Ministra Marina . 

Laroyê, Tieda!Iêda Vilas-Boas Escritora (encantada em 8 de abril de 2022). Exceto pelo último parágrafo (atualizado pela Redação), este texto é um excerto do perfil de Edel publicado na em 22/05/2017. Foto de capa: Divugação .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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