ENEM digital: Como diz o Goiano – Ah neim!!!

ENEM digital: Como diz o Goiano – Ah neim!!!

Enem digital traz mais perguntas que respostas. Até professores têm dúvidas

Novo formato será testado ano que vem e até 2026 estará 100% implantado, mas ainda há muitas questões abertas

Por Junia Oliveira/O Estado de Minas

Uma decisão inevitável e natural aos de vários educadores, mas que chega trazendo mais perguntas que respostas. O ministro da , Abraham Weintraub, anunciou ontem que a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ocorrerá no formato digital a partir do ano que vem, quando essa opção estará disponível a um leque de 50 mil alunos em caráter de teste.

A substituição do papel já havia sido considerada em governos anteriores, mas agora que teve sua adoção anunciada vem recheada de dúvidas. Sem detalhamento de como o processo ocorrerá e sem explicação sobre pontos essenciais, como a sobre o sigilo das questões, o da redação e da correção via teoria de resposta ao item (TRI), professores enxergam na novidade mais ansiedade do que um sentimento real de melhoria.

A consolidação do Enem digital está prevista para 2026. O Ministério da Educação (MEC) ressalta que nada muda para os participantes deste ano. No -piloto, em 2020, os estudantes poderão optar, no ato de inscrição, pela aplicação digital ou pela tradicional prova em papel.
 
A prova digital será aplicada um mês antes, em 11 e 18 de outubro, em 15 capitais: Belo Horizonte, Brasília (DF), Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), (GO), João Pessoa (PB), (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Quem optar pelo processo tradicional responderá ao teste em papel em 1º e 8 de novembro.
 
Por meio do computador, a ideia do governo federal é fazer várias edições do exame ao longo do ano, por agendamento. O Ministério da Educação espera ainda avaliar o aluno com outros tipos de questões, usando vídeos, infográficos e games, favorecendo a interatividade, além de aplicar a prova em mais municípios.
 
De 2022 a 2025, o Enem digital será aprimorado. A previsão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é fazer até quatro aplicações digitais, em datas distintas, com agendamento prévio e ainda opcional para os participantes. Por esse cronograma, em 2026 a versão em papel vai parar de ser distribuída e o exame ocorrerá apenas em formato digital.
 
Integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE) e ex-presidente do Inep, o professor José Francisco Soares, da Universidade Federal de (UFMG), enumera uma série de preocupações despertadas pelo anúncio. A primeira delas é a ordem dos testes.
 
“O primeiro grupo (digital) poderá ser favorecido, pois o outro gasta muito tempo para fazer a redação à mão”, diz. Segundo ele, deve ser avaliado ainda o nível de informação que cada questão traz ao aluno em cada um dos formatos, considerando que o computador tem uma vasta gama de ferramentas que não estão disponíveis aos que resolverão as provas com caneta e papel.
 
“O Enem engessa o ensino médio. O on-line pode ter influência positiva, se tiver opções de itens que hoje não estão disponíveis no papel, como uma questão de ciências com simulação, por exemplo. Ou questões de português que se pode responder com um pequeno texto. Abre uma possibilidade fantástica, mas, se a proposta é turbinar o modelo velho, apenas com múltipla escolha pelo computador, não há nada para celebrar”, completa.
 
O professor ressalta que o objetivo de uma prova pelo computador é demandar do aluno nuances que não se consegue pedir nem medir em questões fechadas. Mas, para isso, é preciso que o formato esteja inserido no projeto pedagógico, o que faz o prazo de um ano ser curto para tantas adaptações, acredita. Francisco Soares ressalta ainda as novas bases do ensino médio, estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que exigem raciocínio crítico.
 
 
 
INCERTEZA 
 
Por causa dessas questões ainda sem respostas, a professora de Pollyana Fantini, da Salinha Bioquímica, considera este primeiro momento muito mais de incertezas, o que traz mais ansiedade, tanto para quem está à frente da sala de aula quanto para os estudantes. “Qualquer novidade deveria ser discutida com quem é protagonista nesse processo, ou seja, os professores e os próprios alunos.
 
Houve uma conversa que ficou nos bastidores e, mais uma vez, vão mudar as regras do jogo com a partida já no meio do caminho”, critica. Ela também cobra mais explicações. E questiona, no quesito tempo, qual seria a vantagem para o aluno. “Deixará de haver textos em algumas questões para haver vídeo, por exemplo?”
 
Outra preocupação é com a redação, cuja avaliação não foi assunto da apresentação feita ontem pelo ministro. “Duvido que universidades sérias aceitem estudantes sem testar a parte escrita”, diz. “A consequência imediata desse anúncio é mais ansiedade. Estou querendo selecionar aluno que saiba ler. Corro risco de não ter treinamento de escrita e, agora, risco de não ter treinamento de leitura. Está todo mundo perdido e no escuro”, afirma a professora.
 

CAMINHO SEM VOLTA
 
A mudança traz mais dú que certeza, embora seja um caminho natural, também na opinião da assessora de gestão e desempenho do Bernoulli Sistema de Ensino, Vanessa Santos. Ela lembra que a logística sempre foi um ponto sensível do Enem e, no formato digital, é preciso garantir que problemas do passado, como vazamento de provas, não voltem a ocorrer. Entre os desafios, está a adesão de participantes que foram treinados para fazer prova no papel e que estejam dispostos a fazer a prova um mês antes.
 
A Teoria de Resposta ao Item é outra preocupação. “Não falou se a correção continuará sendo pela TRI. Se continuar, precisa da calibração de item e de um banco de questões muito robusto, para ter vários tipos de prova. O pré-teste sempre foi processo logístico imenso para o Inep. Será que haverá simulado on-line para pré-testar algum tipo de questão?”, questiona Vanessa.
 
A incerteza não é só de professores. Estudante do 2º ano do Colégio Padre Eustáquio, no bairro homônimo da Região Noroeste de Belo Horizonte, Rafael Cyrne Santos, de 16 anos, também quer mais explicações. Ele fará ano que vem a prova que o credenciará para o ensino superior.
 
Diz já ter decidido que não vai participar do piloto da prova digital. “Tudo na escola está programado para fazer o Enem em formato físico. Além disso, um mês antes, quando estaremos ainda em pré-prova na escola, não é interessante. Se eu já estivesse na faculdade e quisesse fazer um teste, gostaria de tentar para ver como é”, diz.
 
Para Rafael, um problema estrutural pode inviabilizar o formato digital, uma vez que grande parte das escolas públicas brasileiras não tem laboratório de informática. “Falta intimidade desses alunos com o meio digital, diferente do que ocorre em colégios particulares. O modelo deveria ser aplicado com modelo de integração digital da população e reestruturação das escolas públicas. Tem que vir com mais proposta. Assim é muito vago.”
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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