ESTÁTUA DE CHICO MENDES TEM AS MÃOS DECEPADAS

ESTÁTUA DE CHICO MENDES TEM AS MÃOS DECEPADAS

Estátua de Chico Mendes tem as mãos decepadas em novo ato de vandalismo em Rio Branco

A estátua de Chico Mendes localizada no centro de Rio Branco (AC) foi alvo de vandalismo pela segunda vez em menos de um ano

Por Casa Ninja Amazônia/Mídia Ninja

Na madrugada desta segunda-feira (15), o monumento teve as mãos arrancadas. Instalada na Praça Povos da Floresta, é um dos principais marcos culturais de Rio Branco.

O Comitê Chico Mendes (@chicomendescomite) divulgou uma nota de repúdio, classificando o ataque como um ato de violência simbólica contra a memória do seringueiro e líder ambientalista. “Tentam nos calar, arrancam nossas mãos, mas não podem tirar nossa resistência”, afirma o texto, ressaltando que o ato representa não apenas um ataque à figura de Chico Mendes, mas também à luta pelos direitos humanos, ambientais e dos povos da floresta.

“Não é a primeira vez. Em julho de 2022, o patrimônio foi arrancado e derrubado ao chão. Foi necessária uma revitalização, realizada pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), que veio a ficar pronta em novembro de 2023. Em 2018, o menino que acompanhava Chico na escultura também foi furtado e levado, deixando o líder sindicalista sozinho na Praça”, diz a nota.

Para Angela Mendes, filha mais velha de Chico e presidenta do Comitê, o ato é mais do que a simples depredação de patrimônio público, o que em si já seria um crime. “Sinto como se fosse uma mensagem clara e contundente de que o latifúndio está cada vez mais vivo e mais forte no outrora Estado da Florestania. Iremos denunciar e registrar um boletim de ocorrência e, diferente da primeira vez, esperamos uma resposta à altura dos órgãos de segurança e do Ministério Público”, declara em nota do Comitê.

A Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour (FEM), responsável pelo monumento, informou que a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp-AC) é a responsável por investigações relacionadas ao ato de vandalismo. Até o momento, não houve resposta oficial do órgão sobre o caso.

Capa: Após ser revitalizada em 2023 pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), a estátua foi recolocada na Praça dos Povos da Floresta/Foto: ContilNet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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