Filtros de Sócrates

Filtros de Sócrates

Na antiga Grécia Sócrates tinha uma grande reputação de sabedoria. Um dia veio alguém encontrar o grande filósofo e disse-lhe:
 
– Você sabe o que eu acabei de ouvir sobre o seu amigo?
 
– Espere um pouco – respondeu Sócrates – antes que você me conte, eu gostaria de fazer um teste para você, o dos três filtros. – Os três filtros?
 
– Sim,- continuou Sócrates – antes de contar qualquer coisa sobre os outros, é bom tirar o tempo de filtrar o que se quer dizer. Eu chamo de teste dos três filtros. O primeiro filtro é a verdade. Já verificou se o que vai me dizer é verdade?
 
– Não, eu só ouvi. – Muito bem. Então você não sabe se é verdade. Continuamos com o segundo filtro, o da gentileza. O que você quer me dizer sobre o meu amigo, é algo bom? – Ah, não! Pelo contrário.
 
– Então – questionou Sócrates – você quer me contar coisas ruins sobre ele e você nem tem certeza se elas são verdadeiras. Talvez você ainda possa passar no teste do terceiro filtro, o da utilidade. É útil que eu saiba o que você vai me dizer sobre esse amigo?
 
– Não, a sério. – Então – concluiu Sócrates – o que você ia me contar não é nem verdade, nem bom, nem útil; por que você queria me dizer?
 
Melhoremos a nossa vida ….
 
Fonte: Cleide Rodrigues. Capa: Mundo Educação. 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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