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Formosa: Relato sobre as tratativas para a construção do primeiro aeroporto da cidade

Relato sobre as tratativas para a construção  do primeiro  Aeroporto de

Em seu livro “Roteiro do Tocantins”, Editora Revisa Aeronáutica, 3a Edição, 1987, o aviador Lysias Augusto Rodrigues (1896-1957), pioneiro da Rota do Tocantins, nos traz preciosas informações sobre as tratativas para a implantação do primeiro aeroporto de Formosa:

A cidade está localizada em uma encosta suave e pitoresca do planalto central; ao longe, para leste, delineiam-se delineiam-se morros mais elevados, cobertos de mato, dando a impressão de que Formosa se acha em um vale. A cidade apresenta-se como um bosque, tais e tantas são as enormes árvores frutíferas, de onde sobressaem as manchas vermelho-escuras dos telhados. Há, e isto chama logo a atenção, grande número de casas em construção, índice seguro de progresso local. entre estas, está a usina elétrica, de 3 andares.

Antes do almoço fomos ver um terreno junto e a NW da cidade, que nos pareceu prestar-se para campo de aviação.  Havíamos decidido pernoitar esse dia em Formosa porque a distância a Olhos D´Água (hoje São João da Aliança) era muito grande para podermos atingir esse dia, com a má estrada que liga essa Vila a Formosa. O prefeito, aliás, já havia reservado aposento para nós no Hotel Amato, o único da cidade, que muito deixava a desejar em higiene e conforto. Depois de trocarmos ideias com o prefeito, ficou resolvido que seria reservada uma área de 1.000 por 600 metros, para o campo de aviação, com a possível brevidade, pois que o terreno se apresentava deveras favorável.

Expusemos ao prefeito qual a orientação seguida pelo Departamento de Aeronáutica Civil, de que os campos de aviação deveriam ser aeroportos municipais, preparados e conservados pelas respectivas prefeituras;  o prefeito assegurou-nos que seria baixada a lei municipal necessária nesse sentido, reservando a área do terreno, cercando-o e preservando-o de construções nas proximidades. Junto ao campo existe um posto meteorológico do Ministério da Agricultura; conversando com o encarregado, verificamos que a cidade dispões de ótimo clima. O vento normal é do quadrante E, muito fresco até o meio dia, e quase sempre forte; em junho e julho é gélido. De outubro a abril há chuvas gerais sendo dezembro o mês mais chuvoso. Em janeiro, há ali o “veranico” de 15 dias, semelhante ao de maio no sul do país. O vento em Formosa, encanado no vale em que está localizada a cidade, desvia a direção, dando a indicação errônea; desde que se suba o planalto ao Norte da cidade verifica-se isto. O então responsável pelo posto meteorológico, perturbado pelo interrogatório que fazíamos, dava a impressão do aluno descuidado ante o inspetor escolar; no entanto, tinha seu serviço religiosamente escriturado. A energia elétrica de que dispõe a cidade é captada na cachoeira das Bandeirinhas, em 3 saltos, com 62 metros de queda, situada a 12 quilômetros da cidade (220 volts, 50 ciclos).

A estrada para a usina tem rampas fortes e curvas bem perigosas. A força e luz necessárias ao aeroporto pouco dispêndio darão, pois bastará puxar os fios só por 1 quilômetro. 

Existe na cidade uma pequena oficina mecânica. Há médico e fazem os habitantes um grande esforço para construir um hospital.  O local escolhido pelo hospital tem um panorama deliciosamente lindo, dominando a Lagoa Feia. 

Próximo à cidade há uma mina de minério de ferro, que foi muito explorada no tempo do Império, e que, segundo informações locais, tem um teor de 90% de ferro puro. Achamos exagerado o teor; e só um exame químico revelará a verdade. 

À tarde fomos conhecer a Lagoa Feia, a convite do prefeito. Se há alguma coisa no mundo, cujo nome esteja errado, é o dessa lagoa. É linda! De 6 quilômetros por 600 metros, orlada de árvores grandes de colorações  vivas e diferentes (rosa, amarela, vermelha, verde-escuro, verde-gaio, etc.), entremeadas de salgueiros que se debruçam sobre as águas, é abundante em peixe e… em jacarés! Junto à margem, a Prefeitura mandou preparar um local, à sombra das árvores, com mesas e bancos rústicos, para passeios e piqueniques, havendo barcos de aluguel na lagoa.

A altitude de 900 metros de Formosa, a baixa temperatura e o vento forte, não deixam haver mosquitos na cidade. 

Diante das condições de hotel, e contávamos mais para o interior encontrar alojamentos piores, fizemos ver ao prefeito a necessidade da construção de um bom hotel municipal, porque a progresso que a aviação viria trazer exigia conforto.  O jantar que nos foi oferecido no hotel, pelo prefeito e autoridades locais, foi simplesmente pantagruélico, pois havia nada menos de dezessete pratos de comida fora 5 ou 6 sobremesas!

Durante o jantar, evidenciamos a necessidade das autoridades locais investirem em turismo, quanto mais não fosse para se admirar a formidável cachoeira do Rio Itiquira, de uma beleza deslumbrante, que se despenha de 132 metros de altura, no Vão do Paranã.

Mr. Blotner assentou com um sírio, que era o agente da Texas e da Standard, mandar buscar logo 1.200 litros de gasolina de aviação, para o avião da Panair que deveria vir, meses depois, fazer a exploração da rota aérea que estávamos estudando. Combinou-se como prefeito como assinalar o campo e batizá-lo com fumaça, por ocasião da vinda do avião. Mr. Blotner foi tomar informações com um alemão, que fez um estudo geológico da mina de ouro existente próxima à cidade. 

Como o hotel estivesse cheio à cunha, com gente preparando-se para dormir nas salas e corredores, com o secretário do prefeito, fomos dar uma volta pela cidade. Coisa curiosa chamou-nos à atenção logo que saímos: um grande pano preto pregado sobre uma porta. Informaram-nos que o costume local de anunciar luto na família.

Fomos deitar quase à meia noite, tendo deixado tudo preparado para partir na manhã seguinte, e com uma ótima impressão da cidade e de sua gente. 

Formoa antiga vista aérea formosahistorica.blogspot.com .brFoto: formosahistorica.blogspot.com.br

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Uma resposta

  1. qual a data a que o relato se refere? o livro é de 1987, mas o campo de aviação é muito anterior. Aguardo resposta, obrigada!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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