Homenagens a José J. Veiga
Se estivesse vivo, o escritor José J. Veiga teria feito 100 anos em fevereiro de 2015. Bom motivo pras comemorações. Em Corumbá de Goiás, sua terra natal, vários eventos o homenagearam. Em plano nacional, a editora Companhia das Letras iniciou a reedição de suas obras, começando por “Os Cavalinhos de Platiplanto”, já nas livrarias…
Por Jaime Sautchuk
Este foi seu primeiro livro, que ele só publicou aos 44 anos de idade, após muita insistência de alguns amigos. Entre esses estava João Guimarães Rosa, que leu os originais e pretendia fazer um prefácio pra obra, intento de que foi dissuadido pelo autor. Ele achava descabidos prefácios em peças de ficção.
Os dois eram muito amigos, a ponto de Rosa usar seu gosto pelo sobrenatural pra sugerir, com base em numerologia, que seu colega passasse a usar o nome de José J. Veiga, em vez do José Jacintho Pereira Veiga de nascença. A sugestão foi prontamente aceita.
O segundo livro veio devagar, levou bons sete anos para sair. Foi o romance “A Hora dos Ruminantes”, de 1966, um estouro de público – vendeu nove edições de enfiada, surpreendendo até os editores. Com tamanha aceitação dos leitores e pedidos de tradução no mundo inteiro, nos anos seguintes vieram muitos mais, um atrás do outro.
O surrealismo ou o realismo fantástico, como se convencionou chamar, sempre tomou conta da sua narrativa. Nos seus 15 livros de contos e romances, Veiga tinha um estilo inconfundível, capaz de misturar a dura realidade do seu estado e do Brasil com viagens espaciais e bois que voam.
Ele, contudo, não gostava dessa classificação. Considerava esse tal “realismo fantástico” um modismo da mídia, um ardil marqueteiro destinado a vender livros num período em que o mundo alçava voos interplanetários. Mas é inegável que o universo goiano, interiorano, com seus valores e sua rotina de vida, está presente em toda sua obra, mesclado com o surreal.
No romance “Relógio Belisário”, por exemplo, Veiga consegue colocar o legendário detetive inglês Sherlock Holmes,
criação de Conan Doyle, pra ajudar um delegado de polícia a desvendar um crime no Rio de Janeiro. De quebra, envolve um javanês, que não passava de um personagem de outro escritor, o carioca Lima Barreto, no livro “O Homem que Sabia Javanês”, publicado em 1911.
Veiga nasceu numa fazenda nos limites de Corumbá com Pirenópolis, às margens do córrego Baião, onde seu pai era agregado. Com seis anos de idade, foi com a família pra cidade e ali seu pai, Luiz Pereira da Veiga, virou pedreiro na construção civil. Aos doze, perdeu a mãe e foi morar com tios na cidade de Goiás (Goiás Velho), então capital do estado.
Ele deixou o chão goiano aos 20 anos e se tornou advogado nos bancos da Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Mas nunca exerceu a profissão. Virou jornalista e trabalhou em O Globo, Tribuna da Imprensa, Seleções Reader’s Digest e na rádio BBC de Londres, Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Sempre recusou convites para ingressar na Academia Brasileira de Letras e em outras entidades desse tipo. Considerava-as elitistas, excludentes, seletivas, e era avesso à ritualística desses ambientes. “Acho ridículo!”, dizia.
Sua casa, em Corumbá, fica a menos de 500 metros daquela onde nasceu e morou outro escritor famoso, o seu amigo desde a infância Bernardo Élis. Este também faria 100 anos em 2015, em novembro, e foi igualmente alvo de homenagens. Dele, falaremos outro dia.
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