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Letícia Santiago de Moraes: secretária da juventude do CNS

Letícia Santiago de Moraes: secretária da juventude do CNS

Meu nome é Letícia Santiago de Moraes, sou extrativista, moradora do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Ilha São João I, comunidade Nossa Senhora da Boa Esperança, rio Pagão, no município de Curralinho, Marajó-PA. Sou uma jovem mulher, filha de Dulcimar Baratinha de Moraes e Miracelia Santiago de Moraes, duas importantes lideranças das populações extrativistas da comunidade Nossa Senhora da Boa Esperança.

Por Letícia Santiago de Moraes 

Eu nasci e me criei nesta comunidade que chamo carinhosamente de minha comunidade de pertencimento, pelo sentimento de ser e pertencer ao território, aos rios, às florestas e à diversidade. Sou neste processo uma sementinha que, junto com muitas outras sementinhas, luta pelo coletivo, por justiça social, ambiental e climática.

O território onde moro representa para mim a esperança de viver, e a floresta é uma herança guardada pelos meus ancestrais que levo como base da minha (RE) existência, pois a minha trajetória de jovem mulher extrativista se conecta às histórias de grandes líderes e mártires da Amazônia, como Chico Mendes, líder seringueiro, herói do Brasil, um revolucionário cujo ideal vive às gerações e contam histórias como a minha. Em razão disso, a juventude da floresta possui uma identidade e ela é também extrativista!

Nós, as juventudes extrativistas, nascemos com a responsabilidade de guardar um legado de luta, luto, resistência, conquista e esperanças, o território é a raiz deste legado. Mas não podemos nos esquecer dos nossos desafios diários, já que nascemos em um ambiente em que permanecer nas nossas casas com os nossos modos de vida é desafiador pela ausência de garantia de direitos aglutinadores à garantia do território como educação, saúde, produção, saneamento, comunicação, esporte e lazer, e que tais políticas sejam construídas para nós e conosco, de acordo com as nossas necessidades. Por isso, lutamos e reafirmamos a continuidade dessa luta.

É das histórias contadas e lidas que carrego o legado de Chico Mendes e continuo a perpetuar o dizer que “a defesa da floresta é pela humanidade”, e aqui reforço que a carta ao jovem do futuro deixada por Chico Mendes me motiva a continuar em defesa da construção de um mundo mais justo, para que um dia o legado de dor, sofrimento e morte seja apenas uma lembrança, como sonhou o grande líder seringueiro Chico Mendes.

Letícia Santiago de Moraes – Extrativista. Secretária de Juventude do CNS.  Foto: II Encontro da Juventude Extrativista – Distrito do Carvão – Mazagão-AP 23/11/2022, Myke Sena.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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