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Mais Cabanagem, por favor!

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Cabana: Há 184 anos uma insurreição popular tomava o poder em Belém contra a tirania e a exploração. “Fica à Cabanagem a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou de simples agitação a uma tomada efetiva de poder´” (Caio Prado Júnior, em Evolução do Brasil)

Do Facebook de Gleice Antonia de Oliveira

Revolução Cabana: Há 184 anos uma insurreição popular tomava o poder em Belém contra a tirania e a exploração. “Fica à Cabanagem a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou de simples agitação a uma tomada efetiva de poder´” (Caio Prado Júnior, em Evolução Política do Brasil)

Anos antes das clássicas revoluções do século XIX e XX, como a Comuna de Paris e a Revolução Russa, ocorreu no Pará, entre os anos de 1834 e 1840, uma das maiores revoluções sociais da história do Brasil: A Cabanagem.

Este feito marca um processo de séculos de luta contra a dominação colonial no Brasil, causa da miséria e humilhação vividas pelos nativos da Amazônia, da opressão às comunidades pobres e negras, combinadas com a repressão sem igual do império luso brasileiro.
Vista pela historiografia oficial como uma revolta a mais, a Revolução Cabana representa, sem sombra de dúvidas, um dos episódios mais extraordinários da luta de um contra a sua exploração e opressão.

No período da abdicação de D. Pedro I e da maioridade de D. Pedro II, esta “onda revolucionária das massas” que se estendeu do nordeste paraense até a cabeceira do Rio Solimões no Amazonas desmente o senso comum de que o povo brasileiro é um povo conformado e pacífico.

Ângelo Madson em “A Revolução Cabana: a saga de um povo”, afirma que o processo de luta contra o domínio português é antigo e duradouro. “A Amazônia possui longo passado de agitações políticas e sedições populares e uma boa maneira de entendermos as causas remotas da Cabanagem é o acompanhamento das lutas populares contra o projeto colonialista e absolutista: Três anos após a fundação de Belém, os Tupinambás atacaram o Forte do Castelo no afã de arrasar o foco da ação colonizadora. No ano de 1723, o lendário Cacique Ajuricaba convenceu comunidades indígenas no a se unirem numa confederação sob o lema ‘Essa terra tem dono´.

Em decorrência da Revolução Constitucionalista do Porto (Portugal, 1820) alastrou-se pelo Brasil grande movimentação política, Belém tornou-se a primeira capital a aderir ao movimento. Em 22 de maio de 1822, circulou a primeira edição do jornal ‘O Paraense´. Durante todo o processo de formação do Brasil como Nação, esteve a região, à mercê de juntas governativas lusófilas, isolando a província do restante do país e ligada, como nem uma outra, à Metrópole portuguesa.”

A insatisfação popular se dava em função da truculenta dominação portuguesa na região. Na adesão do Pará em 1823 ao governo imperial, a aumenta. No dia 15 de outubro do mesmo ano, um levante militar ganha a adesão do povo pobre, casas de portugueses foram invadidas e estabelecimentos comerciais saqueados.

O governo reprimiu os revoltosos mandando prender 256 paraenses que foram jogados como lixo no porão do navio Brique Diligente (Brigue Palhaço), onde sofreram de sede, calor e falta de ar. O grito desesperado de ajuda que ecoava pelas ruas da cidade nas proximidades da embarcação levou o governo a ordenar o despejo de cal virgem nos prisioneiros, bastando três horas para que todos morressem. Este episódio ficou conhecido como massacre do Brigue Palhaço.

A partir de 1824, a insatisfação passa a se tornar organização, surgindo assim lideranças como Batista Campos, os irmãos Antônio e Francisco Vinagre, Eduardo Angelim (presidente da província com 21 anos de idade em 1835). Os cabanos tomaram o Palácio do Governo em janeiro de 1835, conseguiram o controle completo de Belém em apenas seis horas, prenderam e mataram parte dos representantes da coroa portuguesa e governaram a cidade de Belém por mais de um an. A partir de junho de 1936 os cabanos são derrotados na capital pelas tropas do governo e se retiram em armas para o interior. Em maio de 1936, a Revolução Cabana se tornou uma luta de resistência até 1840.

Os cabanos (ribeirinhos, tapuios e índios destribalizados) possuíam uma eficiência organizativa impressionante, resistiram bravamente até o final. Ainda no governo, ganharam apoio dos nativos da região, setores da classe média e do baixo clero.

Para retomar o controle, o extermínio imperial ultrapassou o limite dos insurgentes e alcançou a população camponesa da região em conflito, causando a extinção de lugares, povoações e vilas habitadas por tapuios e mestiços. O processo revolucionário finda-se em março de 1840 com um saldo 30.000 mortos, cerca de um quinto da população da paraense, que era de 150.000 habitantes na época.
Utilizada como slogan de prefeituras como a do PT, a cabanagem representa muito mais que marketing ou símbolo político, mítico e ufanista do antigo governo do “povo”. Significa uma memória de bravura que neste seu aniversário de 184 anos, nos deixa o da luta dos explorados e oprimidos, do sonho de uma sociedade sem dominação do homem sobre o homem.

A derrota dos cabanos e de inúmeros processos revolucionários nos séculos XIX e XX deixa-nos como lição um problema crucial para toda revolução: a sua direção. A fragilidade dos dirigentes cabanos situava-se justamente na idéia de de um governo de unidade e conciliação com representantes do poder do Império, uma armadilha permanente dos grandes acontecimentos revolucionários da história.

O tempo, porém, não apagou a chama da luta de classes em nível nacional e internacional. A necessidade de uma direção preparada e testada politicamente, a independência de classe, a centralização das ações, a disciplina férrea e a abnegação militante são fundamentais para o triunfo de uma revolução social e, sobretudo política.

Os limites históricos e políticos dos cabanos serão superados pelas lições deixadas nos anais da história: os organizados com um programa e uma política são capazes de governar e de derrotar a classe dominante. Viva a Cabanagem! Viva a luta dos trabalhadores!

Fonte citada por Gleice:  pstu

 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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