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MANIFESTO DO XINGU: EM DEFESA DOS POVOS DA FLORESTA

Manifesto Xingu: Em e dos modos de vida dos Povos da

 Nunca vamos deixar de ser os povos do Xingu, nunca vamos abandonar as nossas terras, queremos deixá-las para nossos filhos e netos. O Xingu é um só.”

MANIFESTO XINGU 

Nós, povos indígenas de 15 das etnias Mebengokre, Kalapalo, Ikpeng, Yudja, Panara, Khisêtjê, Tapayuna, Parakanã, Arawete, Xikrin do Bacajá, Xipaya, Kuruaya, Arara da Cachoeira Seca e Yudja da Volta Grande, e ribeirinhos das Reservas Extrativistas Riozinho do Anfrísio, Iriri e Xingu, e do Conselho Ribeirinho,

todos moradores do Corredor de Diversidade Socioambiental do Xingu, estivemos reunidos no 4º Encontro da Rede Xingu+ entre os dias 21 e 23 de agosto de 2019 na Aldeia Kubenkokre, TI Menkragnoti, sul do Pará, para discutir as ameaças sobre os nossos territórios e as alternativas que estamos construindo para o nosso futuro.

Estamos extremamente preocupados com o que está acontecendo atualmente no . O Governo diz que nós, os povos da floresta, queremos viver como todos os brasileiros e que não precisamos mais de nossas terras. Mas isso é mentira!

O Governo quer abrir os nossos territórios para a econômica dos fazendeiros, garimpeiros, mineradoras, madeireiras, hidrelétricas, rodovias e ferrovias. Nós queremos viver com saúde, com as nossas culturas vivas, caçando, pescando, cultivando nossos alimentos e protegendo a floresta que herdamos dos nossos antepassados.

Exigimos que se cancelem todos os projetos de lei ou de reforma da Constituição que pretendem liberar a mineração (PL 1.016/96) ou o arrendamento (PEC 187/343).

Exigimos que sejam retomadas e fortalecidas as ações de fiscalização ambiental freando o avanço do desmatamento, os incêndios criminosos e a invasão dos nossos territórios como está acontecendo neste exato momento com apoio e incentivo do atual governo.

Exigimos a desintrusão imediata de nossos territórios invadidos. Exigimos que parem de jogar toneladas de em nossos rios e florestas, envenenando nossos alimentos e nossas famílias. Exigimos que o Governo pare de insultar as nossas lideranças e respeite sua legitimidade política.

Queremos que a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI) seja implementada, respeitando nossos Planos de Gestão. Queremos também a implementação das e respeito às suas comunidades tradicionais.

Queremos de saúde e educação escolar verdadeiramente diferenciadas e de qualidade dentro de nossos territórios. Queremos políticas públicas que incentivem e fortaleçam nossos produtos da floresta. Estamos produzindo mel, óleos, farinhas, castanhas, pimentas, borracha, sementes, artesanatos, água e ar puro.

Somos responsáveis pela proteção da floresta do Xingu, que beneficia toda a região e os moradores das grandes cidades, contribuindo para o equilíbrio climático essencial para o país e para o mundo.

Queremos o reconhecimento e respeito aos nossos modos de vida e também participar das decisões sobre o futuro do Brasil. Exigimos ser ouvidos, especialmente sobre aquilo que nos afeta, conforme garante a Convenção 169 da OIT, que é lei no Brasil.

Nunca vamos deixar de ser os povos do Xingu, nunca vamos abandonar as nossas terras, queremos deixá-las para nossos filhos e netos. O Xingu é um só.

Aldeia Kubenkokre, Pará, 23 de agosto de 2019

Instituto Kabu –  Instituto Raoni – Associação Floresta Protegida – Associação Cultural Indígena Kapot Jarina – Associação Indígena Xingu –  Associação Iakiô/Panara – Associação Indígena Kīsêthjê – Associação Yarikayu/Yudja –

Associação Indígena Moygu Comunidade Ikpeng – Associação Indígena Tapayuna – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Xingu – Conselho Ribeirinho Xingu – Associação Pyjahyry Xipaya –

Associação Bebo Xikrin do Bacajá – Associação Indígena Kuruaya Yrinapanha – Conselho Arawete – Associação Tato’a Conselho Parakanã – Associação Kowid – Arara da Cachoeira Seca – Associação Yudja Mïratu da Volta Grande do Xingu –

Associação Indígena Korina/Juruna – Associação Indígena Kumarewa/Juruna – Associação Ajuvik/Juruna – Associação Indígena da Aldeia Curuá/Kuruaya – Associação Indígena Tapawia – Associação Kowid – Associação Kuywui.

NOTA DO INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

Comunidades indígenas e ribeirinhas se reuniram na Terra Indígena (TI) Menkragnoti (PA), no coração da bacia do Xingu, no dia 23 de agosto e firmaram uma aliança em defesa da Amazônia e seus modos de vida.

Dezenas de lideranças de 14 povos indígenas e populações tradicionais participaram do 4º Encontro da Rede Xingu+, articulação que luta pela proteção do Xingu. As áreas protegidas da bacia do Xingu estão na fronteira do desmatamento.

Só neste ano mais de 92 mil hectares de floresta foram derrubados na região, aumentando a pressão sobre o território. As criminosas, grilagem, mineração, roubo de madeira, avanço da agropecuária e obras de infraestrutura ameaçam a integridade da floresta e seus povos.

MANIFESTO DO XINGU: EM DEFESA DOS POVOS DA FLORESTA

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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