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Manuela Sáenz – A libertadora do libertador

Manuela Sáenz – A libertadora do libertador

Para ler e gostar deste texto é preciso voltar à história, relembrar as duras batalhas pela independência da América do Sul e (re) conhecer grandes homens como José de San Martín, Simón Bolívar, o libertador,  e essa esplêndida e corajosa mulher que tinha o coração livre das amarras sociais vigentes naquele tempo.

Por Iêda Vilas-Bôas 

O poeta chileno Pablo Neruda devotou-lhe versos que contam bem sua vida, suas lutas e sua morte em a “La insepulta de Paita”. Neruda traça um esboço histórico de Manuela e, com uma nota de amor ardente e pura admiração, quer e tenta trazê-la de volta à vida. O poema leva como subtítulo “Elegía dedicada a memória de Manuela Sáenz, amante de Simón Bolívar”.

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(…) I – (Excertos)

EPITAFIO

Éstafue la mujer herida:

en la noche de los caminos

tuvo por sueño una victoria,

tuvo por abrazo el dolor.

Tuvo por amante una espada.

XVII – ELLA

Túfuiste la libertad,

libertadora enamorada.

Entregaste dones y dudas,

idolatrada irrespetuosa.

Se asustaba el búhoen la sombra

cuandopasó tu cabellera.

Y quedaron lastejas claras,

se iluminaron los paraguas.

Las casas cambiaron de ropa.

El invierno fue transparente.

Es Manuelita que cruzó

las calles cansadas de Lima,

la noche de Bogotá,

la oscuridad de Guayaquil,

el traje negro de Caracas.

Y desde entonces es de día. (…)

Destemida e guerreira foi, sobretudo, uma patriota, companheira sentimental do grande libertador das Américas, Simón Bolívar, e heroína da independência da América do Sul.

Manuelita, como era intimamente chamada, recebeu ainda, do próprio Simón Bolívar o carinhoso codinome de Libertadora do Libertador, pela sua atuação nas batalhas enfrentadas ao lado de Simón Bolívar e por tê-lo livrado da morte durante um atentado.

Sua atuação política e amorosa foi duramente criticada e denigrada. Seus contemporâneos a ignoravam e ainda hoje, séculos depois de sua morte, sobram preconceitos ao seu redor. Entretanto, existe uma corrente que a toma como heroína da independência de alguns países da América do Sul e precursora do feminismo na América Latina.

Até onde sua história alcança, Manuelita desperta ódio ou amores, debates e controvérsias. A vida sempre foi dura com Manuela Sáenz. Sua mãe faleceu em seu parto e primeiro foi criada em companhia de freiras concepcionistas. Depois, foi resgatada pela segunda esposa de seu pai que lhe ensinou os bons costumes e a leitura.

Como moça prendada e cheia de prodígios, Manuelita aprendeu todos os ofícios caseiros e também a falar e escrever em Inglês e Francês. Essas habilidades possibilitaram sua sobrevivência em seus anos de exílio em Paita, ao norte do Peru.m2

Manuela cedo se envolveu em atividades independentistas e por seus ideais libertários conheceu José de Sán Martin, que lhe concedeu o título inédito de “Caballeresa de la Orden El Sol del Perú”, quando da Libertação de Lima. Nessa mesma época, conhece Simón Bolívar, um parceiro de lutas de Sán Martin.           A partir de então, Manuela e Simón Bolívar se tornaram amantes e companheiros de luta por oito anos, até a morte dele. Manuela foi líder, estrategista, tinha uma excelente pontaria e foi o grande amor de Simón Bolívar.

Seguiria lutando ao lado de seu grande amor e abandonou seu matrimônio com um Inglês porque, segundo ela: “que no podía amar a um hombre que reía sin reír, que respiraba pero no vivía”. Esse comportamento considerado impróprio abriu antecedentes para o autodeterminismo de uma mulher em época de extrema repressão.

Manuelita foi ancoradouro, sombra, confidente e guardiã de Bolívar. Cuidou e salvou seus arquivos pessoais, protegeu sua vida e seus interesses políticos.

Após a morte dele, Manuelita foi banida da Colômbia e partiu para um breve exílio na Jamaica. Depois regressa ao Equador, mas não consegue chegar a Quito porque teve seu passaporte revogado pelo Presidente Vicente Rocafuerte. Assim, decidiu instalar-se em Paita.

Ali, foi visitada por ilustres personagens que reconheciam seu valor histórico e social como o patriota Giuseppe Garibaldi, ou o escritor peruano Ricardo Palma, que redigiu seu livro Tradiciones Peruanas com base nos relatos de Manuela.

A partir dali, nossa mulher-coragem, nascida em Quito, Equador, em 27/12/1795, por 25 anos seguidos, passou a viver das boas memórias de seu amor e de suas lutas; também traduzia e escrevia cartas aos EUA, ajudando os analfabetos da região em suas demandas. Vendia tabaco e por dom e necessidade fazia bordados e doces por encomenda. Faleceu em Paita, em 23/11/1856, aos 58 anos de idade com difteria epidêmica.

Não teve distinção ou honrarias, não tocaram trompetes em sua homenagem. Seu corpo foi sepultado em vala comum e seus pertences incinerados, entre eles as cartas de amor que recebeu do Libertador e documentos importantes da Colômbia que estavam sob sua custódia. Costumava dizer aos que perguntavam de seu amor pelo Libertador: “Vivo adoré a Bolívar, muerto lo venero”.

Tinha estampados em seu peito dois amores: Independência e Bolívar. Podemos admirar Manuelita Sáenz como uma das maiores defensoras do direito à liberdade e dos direitos da mulher. Metaforicamente foi a gestora da Independência de países como Colômbia, Equador e Peru.

Em vida recebeu muitos codinomes: “Caballeresa del sol”, La Sáenz (pelos inimigos), “Amable loca”, “Manuelita la bella” e o maior de todos – “A Libertadora do Libertador”. Postumamente recebeu homenagens de vários países, sendo que um punhado da terra de Paita foi trazido à Venezuela e colocado no Panteão Nacional.

Esses restos simbólicos percorreram os países Peru, Equador, Colômbia e Venezuela e foram se aportar em Caracas, onde foram depositados num sarcófago, onde repousam, para sempre, ao lado dos restos mortais de Simon Bolívar.

O governo venezuelano eregiu uma escultura de 14 metros a Manuela Sáenz, o monumento é chamado de Rosa Roja de Paita e encontra-se ao lado do mausoléu de Simón Bolívar em Caracas. Também recebeu, depois de sua morte, a ascensão ao posto de General da Divisão do Exército Nacional Bolivariano.

Resgatar a memória e vida de Manuela Sáenz possibilita regatar a todos os lutadores e a todas lutadoras que não figuram nos conhecidos catálogos de heroísmo. Ademais, coloca a mulher como protagonista de importantes eventos, sem abandonar seu ideal de amor.

Iêda Vilas-Bôas – Escritora.  Matéria publicada originalmente em novembro de 2016. Fotos: As fotos internas desta matéria são do acervo de sua autora, Iêda Vilas-Bôas, falecida em 8 de abril de 2021. Iêda foi Conselheira da Revista Xapuri do nascimento da Revista até o seu encantamento. Deixa imensa saudade. 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 

 

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