MARA: vítima de abuso sexual

MARA: vítima de abuso sexual

Num recorte sobre a contra as , em especial, Onã   traz nesse poema-denúncia sua poética contribuição para as vítimas de abuso sexual e pede de Proteção às mulheres já!

Às cinzas, Mara reduziu a sua
Desde aquele dia em que seu pai
Alcoólatra de velha data
Completamente alucinado
Tocou-a com afago diabólico
Depois, sem clemência qualquer,
Abandonou-a
Semimorta e violentada.
O íntimo, Mara, secreta a sua dor
Fê-lo sepulcro da infância
Ora vêm lembranças lúgubres
Amarga-se em profundo estupor
Sozinha, no silêncio melancólico
A sós, com o autista
Distante daquelas lembranças.

Zombeteiro o passado teima voltar
À cena infernal que viveu Mara
Parece inútil esquecê-la
Nada foi mais forte que a realidade
Nem a bebida que os amigos
Receitaram como lenitivo
Nem mesmo o narcose.
Casos semelhantes a este
São comuns no dia-a-dia
Constroem manicômios
Diagnóstico médico: transtorno
Prognóstico: cura entre aspas
Casos selados.
Casos sem solução.
Mara enrodilha feito larva
Dentro do casulo negro
Muito longe da luz.
Alguém precisa lhe mostrar o Sol
Para um dia ela ser borboleta
Ter asas… voar…
Verdadeiramente livre

Onã Silva é enfermeira-cordelista. A Poetisa do Cuidar é Graduada em Enfermagem e Artes Cênicas, Pós-Graduada em Pública, Mestre em , Doutora e Pós-Doutora. Filiada a diversas academias literárias.  Idealizou a Academia Internacional de Poetas e Escritores de Enfermagem (Academia IPÊ).  Recebeu em 2019, o Título de Cidadã Honorária de , pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. Autora premiada em concursos de poesias, monografias e trabalhos científicos. Também é membro da ALANEG/RIDE representando a Cidade de Posse-.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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