Marighella e o 5G

Marighella e o 5G

Marighella e o 5G

No dia 4 de novembro o filme Marighella, de Wagner Moura, baseado no de Mário Magalhães, foi lançado no . O filme ressalta a pela justiça social, pelos direitos dos mais pobres, pela democracia, contra as desigualdades civis…

Via Nossa Opinião

No mesmo dia, prolongando-se até o dia seguinte, ocorreu o leilão do 5G. Um leilão elitista, marcado por denúncias de fraude, favorecimento dos grandes grupos econômicos, de compromissos com o investimento na pesquisa, na , no nacional. O 5G é importante e estratégico, mas não da forma como querem implantar no Brasil.

O leilão recebeu espaço nobre nos telejornais, do Jornal Nacional ao SBT Brasil. Para a Globo, “o futuro é agora”. A Bandeirantes afirmou que “pode mudar a sua vida” e, para a Record, trata-se de “uma revolução tecnológica”. Você acredita?

Não dá para realizar um leilão tão importante como o do 5GT sem nenhuma articulação com para educação, a , a pesquisa/desenvolvimento, cultura nacional. O leilão do 5G não dialogou com a realidade nacional.

O Brasil, com o 3G e o 4G, manteve uma grande desigualdade/exclusão digital, um gap digital. Essas pessoas serão incluídas no mundo digital com o 5G? A pandemia foi um momento que demonstrou esse abismo. O 5G poderá agravar essa exclusão. Devido ao modelo de leilão escolhido, essa tecnologia vai ficar muito distante da população de baixa .

Os grandes favorecidos no leilão foram a Vivo, a Claro, a TIM e Nelson Tanure – um dos que destruíram a Oi e hoje está à frente da Sercomtel. O leilão brasileiro foi montado de forma a favorecer os interesses das grandes operadoras. Interesses nacionais, interesses da maior parcela da população? Nem pensar.

As irregularidades apontadas pelo ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União, baseadas no parecer de 270 páginas dos técnicos do TCU, apareceram no leilão. Por exemplo, em relação ao preço: “há riscos de que a oferta desses lotes (de frequências) pelo valor precificado pela Anatel resulte em uma vantagem econômica indevida aos adquirentes da frequência, em detrimento da União, o que configuraria um dano ao erário”. Os técnicos do TCU estimaram um prejuízo de cerca de R$ 101 bilhões aos cofres públicos. As beneficiadas seriam as grandes operadoras de telecomunicações. O que aconteceu? O valor total arrecadado foi de R$ 47 bilhões.

Nos EUA, o leilão do 5G só para a faixa de 3,5 GHZ arrecadou US$ 81 bilhões. No Brasil, o valor pago por Claro, Vivo e TIM não chegou a R$ 1 bilhão por licenças que dão o direito de explorar essa tecnologia, na faixa de 3,5 GHZ, em todo território nacional. A Brisanet, que adquiriu um lote do Nordeste regional, pagou sozinha cerca de R$ 1bi e 300 milhões. Então, tivemos uma situação esdrúxula em que a licença para em todo o Brasil foi muito mais barata que uma licença regional. As grandes operadoras agradecem.

Um dos poucos compromissos que havia no edital era a conectividade das escolas. Lembrando que, principalmente, Oi e Vivo têm essa obrigação desde 2008, não cumprem e a Anatel nada faz. Pois bem, a própria previsão da Anatel era de que fossem arrecadados cerca de R$ 6 bilhões na faixa de 26 GHZ – porém, só foram arrecadados R$ 3,1 bilhões. Quem colocará o valor restante? A União, leia-se, o dinheiro público?

A verdade é que o leilão do 5G foi um grande fracasso econômico e social. Perdemos uma grande oportunidade de dialogar com o Brasil real, de combater as profundas desigualdades, a exclusão digital. O país pelo qual lutou Marighella, mais justo e democrático.
Instituto Tlecom, Terça-feira, 9 de novembro de 2021.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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