MORRE KUEIN XETÁ, SOBREVIVENTE MAIS VELHO DO SEQUESTRO DE INDÍGENAS NO PR

MORRE KUEIN XETÁ, SOBREVIVENTE MAIS VELHO DO SEQUESTRO DE INDÍGENAS NO PR

Morre Kuein Xetá, sobrevivente mais velho do sequestro de indígenas no PR

Kuein faz parte do povo xetá, que ocupava uma área no Noroeste paranaense até ser despejado pela colonização

Por Denise Paro/H2 Foz

Kuein Manhaai Nhaguakã Xetá, conhecido como Kuein Xetá, morreu no dia 22 de maio em Guarapuava. Ele era o sobrevivente mais velho de um grupo de oito xetás sequestrados por servidores do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) na Região Nordeste do Paraná.

O episódio, que ocorreu na década de 1940, passou a ser conhecido por um genocídio contra o povo xetá praticado com a conivência do estado.

A idade de Kuein é incerta. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Sul, estima-se que ele teria entre 85 e 90 anos. Também não se sabe exatamente a causa da morte, porém há dez anos foi vítima de um AVC e apresentava sequelas na fala. Atualmente, ele vivia na Terra Indígena Marrecas, em Guarapuava.

Sequestradas, crianças ficaram longe da família

O povo xetá habitava, até a década de 1940, um território próprio na Região Noroeste do Paraná, na região de Umuarama.

Porém, as terras foram arbitrariamente repassadas pelo Governo do Estado à empresa Suemitsu Miyamura & Cia. Ltda. e, posteriormente, à Companhia Brasileira de Imigração e Colonização (Cobrimco), ligada ao Grupo Bradesco. A ruptura resultou na destruição da cultura, território e modo de vida dos xetás.

Na ocasião do sequestro, ainda criança, Kuein estava junto com irmão e parentes – Tucanambá José Paraná (falecido), José Luciano da Silva – Tikuein (falecido), Tiqüein Xetá (falecido), Maria Rosa à Xetá, Maria Rosa Tiguá Brasil, Ana Maria (Tiguá) e Rondon Xetá.

As crianças foram separadas do povo e reencontraram os familiares apenas quatro décadas depois. Saiba mais nesta reportagem:

Xetás lutam para recuperar o passado e a dignidade – H2FOZ – Notícias de Foz do Iguaçu.

A Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Paraná reconheceram formalmente o genocídio contra os xetás. No entanto, nenhuma de suas recomendações feitas foi implementada.

A história do povo xetá é marcada pela luta. Em 2009, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) iniciou estudos para identificar e delimitar a Terra Indígena Herarekã Xetá.

Inicialmente, foram reconhecidos 12.433 hectares. Porém, após pressão política, segundo o Cimi, a área foi reduzida para apenas 2.868 hectares.

Em 2012, a empresa Santa Maria Agropecuária Ltda., ingressou com ação judicial pedindo a anulação do estudo. O pedido da empresa, administrada pelo neto fundado do Bradesco, foi acolhido pela Justiça Federal de Umuarama, em nome da tese do marco temporal, de acordo com o Cimi.

Para o Conselho Indigenista Missionário, a morte de Kuein Xetá representa não somente a perda de um ancião e guardião da memória, mas também evidencia o sofrimento contínuo de um povo que segue impedido de retornar às suas terras.

Kuein morreu sem que os próprios parentes pudessem prestar-lhe as últimas homenagens, porque hoje vivem dispersos em diferentes terras indígenas do Paraná e de Santa Catarina. A notícia chegou até eles apenas após o sepultamento.

(Com informações da assessoria de imprensa)

Fonte: H2 Foz

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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