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Covid leva Paulo Paiakan, grande liderança Kayapó

Covid leva Paulo Paiakan, grande liderança Kayapó

Morto por Covid-19 nesta quarta-feira (17), Paiakan liderou a mobilização de seu durante a Assembleia Constituinte em 1988 e lutou contra a do território Kayapó, no Pará

Bepkororoti Payakan, conhecido como Paulo Paiakan, grande liderança do povo Kayapó, faleceu na manhã de hoje (17/6), vítima de Covid-19. Ele estava internado em Redenção e será sepultado na aldeia Aukre, Indígena Kayapó (PA). Paiakan teve uma importância muito grande não apenas para seu povo, mas para os do Brasil e todos os brasileiros.

Paulo Paiakan foi decisivo na conquista do capítulo dos Índios na Brasileira de 1988. Foi uma pessoa com imensa capacidade de compreensão sobre o . Tinha um domínio muito grande da língua portuguesa, o que foi fundamental naquele momento histórico em que o Brasil saía de 21 anos de Ditadura e escrevia a Constitucional que rege o país durante o período democrático que se estende até hoje.

Paiakan mobilizou e comandou seu povo quando, pela primeira vez na história do país, os Kayapó desceram maciçamente para para participar dos trabalhos da Assembleia Constituinte. Os Kayapó, juntamente outros povos indígenas, tiveram um papel muito importante nesse processo de trazer pela primeira vez, a voz, a vontade, a expectativa dos povos indígenas brasileiros para o Congresso Nacional.

Em 1992, Paulinho Paiakan foi acusado de estuprar Sílvia Letícia da Luz Ferreira, na cidade de Redenção, no Pará. Em 1994, foi absolvido em 1ª instância. Quatro anos depois, porém, na segunda instância, ele foi condenado a seis anos de prisão pelo Tribunal de Justiça do Pará. Paiakan cumpriu dois anos e quatro meses de prisão domiciliar, dentro da aldeia Aukre.

Depois que a Constituição de 1988 foi promulgada, Paiakan seguiu tendo uma importância muito grande nas lutas e mobilizações dos Kayapó e outros povos contra a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Naquela época o empreendimento era chamado pelo Estado Brasileiro de “Kararaô”, uma expressão da língua kayapó que eles receberam como uma ofensa. Naquele momento a mobilização conseguiu barrar a construção da hidrelétrica, que décadas mais tarde, com novo nome, seria implementada no rio Xingu, trazendo impactos irreparáveis para a região e seus povos.

Ele também foi uma liderança importante na campanha contra a exploração ilegal de mogno, no Pará. Foi nesse processo, ao lado de outras experiências vividas na brasileira, que se gestou a ideia da associação entre os povos da floresta, a defesa de seus direitos e a luta pela defesa do meio ambiente e contra as mudanças climáticas.

Paiakan conseguiu, como poucos, articular as lutas sociais e ambientais. Esse é um dos legados da liderança Kayapó que perdemos hoje.


kamiPaiakan em janeiro desde ano, no encontro dos povos Mebengokre, TI Capoto Jarina

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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