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Mulheres de luta: jornadas históricas

Mulheres de luta: jornadas históricas

Em qualquer época, apesar dos notáveis avanços sociais, as mulheres ainda vão ser injustiçadas socialmente de alguma forma. Nascer mulher e se tornar mulher é uma luta constante. 

Por Maria Letícia Marques

Ser mãe, continuar firme, trabalhar, ganhar menos. Ter que vencer mesmo quando o mundo não é favorável para você. Porém, sem dúvidas, existem e existiram mulheres que fizeram história. Que até hoje nos inspiram. “As mulheres que correram com os lobos” e nos fizeram querer correr também. 

É bem provável que sua inspiração de mulher seja sua mãe ou vó. Heroínas de suas próprias histórias que, com muita luta, conquistaram  espaços, criaram seus filhos dignamente, muitas vezes sozinhas.

Assim como elas, mulheres que marcaram a História também tiveram os mesmos desafios. Bem sabemos que esses desafios aumentam, pois, infelizmente, há contextos sociais racistas e socioambientais divergentes.

MUSAS DA CIÊNCIA

O espaço científico sempre foi extremamente elitista e hostil para com as mulheres. A falta de oportunidades e figuras femininas nesse espaço é um dos fatores que inibe a presença maior de mulheres nesse meio. Apesar dos desafios a serem enfrentados, existiram mulheres que deram o primeiro passo e as que continuaram esse caminho.

Marie Curie foi uma importante cientista polonesa, nascida no ano de 1867, formada em física e química. Suas pesquisas sobre radioatividade trouxeram descobertas incríveis para a humanidade, entre elas o Raio-x.

Marie foi a primeira pessoa que recebeu dois prêmios Nobel, e a primeira mulher a ganhá-lo também. Seu primeiro Nobel foi recebido em conjunto com Antoine Henri Becquerel e Pierre Curie, seu marido. O segundo, em 1911, pelas descobertas e pesquisas do elemento rádio e polônio.

Vou contradizer, por uma boa razão, uma de suas frases: “Na ciência temos de nos interessar pelas coisas e não pelas pessoas”,  pois, a pessoa de Marie Curie é alguém por quem se interessar e que nos chama atenção por diversos fatores.

Sua jornada se tornou icônica, principalmente no mundo da ciência. Seu legado inspirador ajudou a quebrar tabus severos a cerca do intelecto feminino. De longe era uma pessoa prática e direta, sempre firme em suas atitudes.

Foto – brainpickings.org

Jaqueline Goes é uma cientista dos tempos atuais, nascida na Bahia, em 1989. A doutora em Patologia estava a frente das pesquisas sobre o vírus covid-19.

Ela gerenciou uma equipe que foi responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus. Porém, o que mais chamou atenção mundial foi o fato da descoberta ter sido feita 48 horas após o primeiro caso de covid na América Latina.

Além de orgulhar imensamente o Brasil, esse marco histórico foi fundamental para o desenvolvimento de vacinas conta o vírus. Jaqueline também nos lembra fortemente que os cientistas brasileiros existem, são excepcionais no que fazem e precisam ser mais valorizados.

Jaqueline Goes de Jesus. Foto- Currículo Lattes

Sarah Gilbert, inglesa, formada em Ciências Biológicas e Doutora em Genética, também teve participação importante na luta contra a covid-19. As pesquisas de Sarah e sua liderança excepcional na equipe, levaram o desenvolvimento da vacina AstraZeneca. 

A cientista também é mãe, e seu feito ajudou a quebrar ainda mais os estereótipos preconceituosos a cerca da gravidez. Mãe de trigêmeos, ela conta: “Se você consegue criar filhos muito pequenos, três na mesma idade, enquanto ainda trabalha em tempo integral e mantém uma carreira, então você sabe que pode fazer coisas difíceis“.

Porém,  o intuito dessa inspiração não é romantizar a jornada dupla, mas sim fazer a sociedade refletir do que de fato é ser uma mulher mãe, e ainda ter que lidar com as demandas do dia-a-dia. Sua conquista ajudou milhares de pessoas a garantirem a vacinação, além de inspirar as mulheres, principalmente as mães. 

JOHN CAIRNS/DIVULGAÇÃO UNIVERSIDADE DE OXFORD

DIVAS DA ARTE

A genialidade não é exclusiva da ciência. O domínio do próprio corpo, das palavras, das artes, também é uma manifestação de inteligência. São milhares e milhares de divas da arte. Mulheres que fizeram História com suas histórias. Encantaram o mundo com as mais belas artes, danças e poemas.

Frida Kahlo, nascida em 1907, foi uma grande pintora mexicana. Ela se tornou um renomado ícone da arte surrealista e do feminismo. Viveu uma época onde a sociedade era ainda mais conservadora. Porém, sempre enfrentava com coragem e bravura essas adversidades, contrariando os padrões estéticos com autenticidade. Frida também desenvolveu uma doença chamada poliomielite, quando tinha seis anos de idade. A doença lhe causou uma lesão no pé direito, e por essa razão ela passou a usar vestimentas que cobrissem suas pernas, o que veio a se tornar uma marca registrada de sua personalidade.
Além de ser reconhecida por suas obras artísticas, Frida também se consolidou como símbolo de resistência politica. Desde jovem, militava a favor dos direitos das mulheres.

Frida Kahlo

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, foi uma importante jornalista e escritora brasileira. Sua maestria em narrar a psiquê dos personagens a fez se destacar ainda mais no meio literário.

Clarice é um dos maiores nomes da literatura brasileira, seu jeito intimista de escrever conquistou milhares de leitores vorazes. Ela via o mundo de uma forma particular, isso sempre refletiu na maneira como expressava suas palavras.

Clarisse Lispector

Ela também foi uma poetisa incrível, seus poemas continuam encantando muitos corações apaixonados:

Mão

“Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.”

Clarisse Lispector.

Maria Letícia Marques – Colunista voluntária da Revista Xapuri. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade da autora. 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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