O Brasil é indígena

O Brasil é indígena

Leandro Altheman Lopes

Com mais de 300 povos indígenas no Brasil, qualquer fala generalizante em relação ao “índio” já começa muito errada.
“O índio precisa disso, ou daquilo” é uma frase que não tem como estar certa.
São povos em condições muito diferentes.
Temos povos com terras demarcadas mais generosas, especialmente na Amazônia, enquanto outros possuem pequenas áreas.
Isso é determinante sobre como viverão.
Existem grupos indígenas mais engajados em atividades econômicas como mineração, extração madereira, criação de gado, plantio de soja.
Outros exercem melhor suas atividades tradicionais, rejeitando essa inserção econômica, ou mantendo uma relação mais distante. Temos grupos engajados em produção artesanal de subsistência, de modo similar às populações regionais como por exemplo a farinha de mandioca.
Alguns buscam atividades econômicas alternativas trabalhando a agro-floresta, apicultura, meliponicultura, plantio de urucum, extrativismo vegetal de óleos e resinas, perfumes naturais.
Outros ainda exploram o turismo em suas terras e o artesanato, que vem se valorizando.
Outros simplesmente exercem o sacro-santo direito de ficarem na sua sem serem importunados.
Todos merecem nosso respeito
O Brasil é indígena
 
Leandro Altheman Lopes – Jornalista acreano. Imagem: Capa do Facebook de Leandro Altheman. 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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