O CERRADO E OS RIOS DO AMAZONAS

O CERRADO E OS RIOS DO AMAZONAS

O CERRADO E OS RIOS DO AMAZONAS

A Bacia Amazônica é considerada a maior rede hidrográfica do Planeta. Para descrevê-la, um observador, mesmo do espaço, é incapaz de avaliar sua complexidade em meio a ilhas, furos, paranás e igarapés…

Por Altair Sales Barbosa 

A bacia hidrográfica do Amazonas tem sua gênese a partir de três importantes regimes: águas de origem glacial, provenientes dos Andes, águas de origem pluvial, que alimentam a bacia pela margem esquerda: águas tanto de origem pluvial como de lençóis profundos, que a alimentam pela margem direita. 

Na realidade, são esses rios da margem direita que contribuem para os maiores volumes de água na alimentação do Amazonas e, também, são responsáveis pela sua regularidade e sua perenização, já que as águas pluviais e glaciares da sua margem esquerda e as nascentes, apesar de volumosas, possuem regimes irregulares.

Tomando a orientação de Leste a Oeste, pode-se constatar quão extensos e volumosos são os afluentes da margem direita do rio Amazonas, que brotam no coração do Cerrado e cujas vertentes, qual artérias interligadas, são bombeadas para irrigar e oxigenar o pai dos rios.

TOCANTINS E ARAGUAIA 

As sub-bacias do Tocantins e Araguaia são tão complexas e extensas que não se tem certeza qual dos dois chega primeiro ao Amazonas ao sul de Marajó. Oficialmente é o Tocantins, mas é ele que deságua no Araguaia, e não o inverso. 

Porém a nomenclatura não é um fator relevante. O mais importante é a quantidade de água e sedimentos que esses rios levam até a foz do Amazonas, transformando-a num ecossistema extremamente complexo.

TOCANTINS: UM RIO DE VÁRIOS NOMES 

O rio Tocantins bem poderia ser chamado de rio Uru, que nasce nos contrafortes da Serra Dourada e segue ao Norte, ao passo que seus irmãos de nascentes tomam rumo Oeste em direção ao Araguaia ou rumo Sul em direção ao Paranaíba.

Entre as pedras, o Uru é Uruíta, mais abaixo dialoga com dona Ana e se formou Uruana. Depois de tanto se encorpar, tornou-se Uruaçu, ου Uru-grande, nos vocábulos do Tupi. 

Ou o Tocantins seria o Rio das Almas, proveniente dos Pirineus, ou Maranhão, ou ainda o Paranã, que vem do longínquo lugar onde as águas se emendam? O fato é que o rio Tocantins é todos eles e muito mais. Inúmeros afluentes caudalosos o alimentam pela margem direita e pela margem esquerda. 

Alguns da margem direita têm suas nascentes emendadas com águas que correm para a bacia do São Francisco, como é o caso das águas provenientes do Jalapão e das águas do Paranã, oriundas do atual município de Formosa, em Goiás.

O mesmo fenômeno acontece em relação aos afluentes da margem esquerda, com aqueles da margem direita do Araguaia. São as reentrâncias do interflúvio formado pela Serra do Estrondo que os separam.

RIO ARAGUAIA

O rio Araguaia nasce em formações pertencentes à bacia geológica do Paraná, mas integra a bacia hidrográfica do Amazonas. Seu berço e seu curso superior são compostos por águas do Aquífero Guarani. 

No seu nascedouro, esse aquífero se encontra nas formações Bauru e Botucatu. No mesmo local nascem os rios Taquari, que corre no sentido Oeste integrando a sub-bacia do rio Paraguai, no Pantanal Mato-grossense, e Aporé, que corre para Sudeste, desaguando no Paranaíba, formador do Paraná.

Entretanto, o Araguaia segue sereno para o Norte, recebendo a todo instante portentosos afluentes tanto pela margem direita quanto pela esquerda. Alguns desses afluentes são tão extensos e complexos que delimitam, no tempo e no espaço, histórias próprias. 

Esse é o caso de Rio das Mortes, cuja nascente brota das reentrâncias da Serra do Roncador, a pouca distância, onde ao Sul nascem os rios do Pantanal Norte sub-bacia do Paraguai. No seu curso intermediário, o Araguaia abraça a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. 

Na realidade, trata-se de um grande território com rios próprios, lagos e uma diversidade biótica impressionante. Em meio a essa complexidade, segue o Araguaia, até encontrar-se com o Tocantins ou vice-versa, como já foi dito. Bem próximo à nascente do Rio das Mortes, emergem também das reentrâncias da Serra do Roncador os grandes afluentes do Xingu. 

Aí também se situam as nascentes do caudaloso Teles Pires. Na borda Oeste dessa Serra, surgem as águas do rio Arinos, que mais abaixo se une com as águas do Juruena, formado por uma complexa rede de nascentes oriundas da borda Norte da chapada dos Parecis, toda coberta por Cerrado. Teles Pires, Arinos e Juruena se juntam para formar o Tapajós, que deságua no Amazonas na cidade de Santarém.

Guaporé, Mamoré e Madeira têm suas nascentes situadas nos limites Oeste do Cerrado, desde a depressão relativa do Pantanal Mato-Grossense até as águas provenientes das ilhas de Cerrado situadas nos longínquos planaltos de Alta Lídia, Serra dos Pakaás-Novos. Daí, então, descambam águas do Jamari, que vão engrossar o já grandioso Ji-Paraná, que deságua no Madeira.

altair sales e1723823771212Altair Sales Barbosa – Doutor em Antropologia/Arqueologia. Sócio Titular do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Conselheiro da Revista Xapuri, em Cerrado – a constelação do meio-dia. 1. ed. Goiânia, G0, 2022.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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