O Querer das Margaridas

O Querer das Margaridas

Por Zezé Weiss

Entre os dias 13 e 14 de agosto de 2019, milhares de do campo, da e das águas estarão em Brasília para a 6ª Marcha das Margaridas. A Marcha expressa  o  querer  de  milhares,  milhões de Margaridas em contra os retrocessos da agenda antidemocrática, antidireitos, misógina, conservadora e privatista ora em curso no Brasil.

Coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), suas 27 Federações e mais de 4 mil Sindicatos filiados, a Marcha das Margaridas se constrói em parceria com os movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e organizações internacionais, que se somam para lutar contra a ameaça às conquistas democráticas das mulheres brasileiras.

Nesse sentido, a Marcha das Margaridas, que se constitui como a maior e mais efetiva ação estratégica das mulheres do campo, da floresta e das águas para conquistar visibilidade, reconhecimento social e plena no cenário nacional, consolida, em Brasília, o processo de diálogo, formação e mobilização desenvolvido por Mulheres-Margaridas em suas comunidades, municípios e estados.

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O CAMINHAR DAS MARGARIDAS 

Inspirada na luta da líder sindicalista e trabalha- dora rural Margarida Maria Alves, covardemente assassinada na porta de sua casa, no município de Alagoa Grande, Paraíba, em 1983, a Marcha das Margaridas é realizada em Brasília, a cada quatro anos, desde o ano 2000.

A cada Marcha, as Margaridas se reinventam e incorporam novos temas e novas complexidades ao seu rico mosaico humano e social. Na 1ª Marcha, as Margaridas se apresentaram como trabalhadoras rurais. A Marcha reuniu 20 mil mulheres em Brasília para denunciar o efeito das medidas neoliberais em suas vidas, como expressou o lema: “2000 Razões para Marchar Contra a Fome, a Pobreza e a Sexista”. A Marcha integrou as iniciativas da Marcha Mundial de Mulheres, realizada por mulheres ao redor do planeta.

Fortalecidas pela Marcha de 2000, em agosto de 2003 mais de 40 mil mulheres chegaram a Brasília, com o lema “2003 Razões para Marchar contra a Fome, a Pobreza e a Violência Sexista”. Durante a Marcha, as Margaridas negociaram pauta de reivindicações junto ao governo popular do . Uma das conquistas foi o título das terras destinadas à Reforma Agrária em nome de mulheres e homens. As Margaridas também elaboraram pauta interna, visando à promoção da igualdade de gênero no sindicalismo rural.

Construída a partir dos debates na base, a Marcha 2007 se realiza no contexto do segundo governo Lula. Adotando o nome “Mulheres do Campo e da Floresta”, 70 mil mulheres chegaram à capital do país para defender uma pauta de reivindicações que tinha por eixos centrais: terra, água e agroecologia; soberania e alimentar; trabalho, e economia solidária. Naquele ano, reafirmou-se o lema: “2007 Razões para Marchar Contra a Fome, a Pobreza e a Violência Sexista”.

Em 2011, fortalecidas pela eleição da primeira presidenta do Brasil,  100  mil  Margaridas  vieram  às ruas com o lema: “2011 Razões para Marchar – por Desenvolvimento Sustentável, com Justiça, Autonomia, Igualdade e ”. Importantes conquistas foram anunciadas pelo governo de Dilma Rousseff. Teve lugar na Marcha de então a Mostra das Margaridas, em que foi comercializada a produção das mulheres do campo e da floresta.

Em 2015, já se  armava  o  golpe  político  contra a Presidenta reeleita, Dilma Rousseff. Assim,  100 mil  mulheres,  incorporando  o  slogan   “Mulheres do Campo, da Floresta e das Águas” marcharam, resistindo ao impeachment e em solidariedade à presidenta, pelos ataques sofridos naquele período. Através do lema, reafirmaram: “Margaridas seguem em marcha – Por Desenvolvimento Sustentável,  com , Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”.

Agora, em 2019, a Marcha das Margaridas continua a caminhada de ousadia, coragem e resistência trilhada por milhares de mulheres desde os anos 1980 e 1990, que foi quando as mulheres do campo começaram a se mobilizar por seu reconhecimento como trabalhadoras rurais e direito à previdência e à sindicalização.

Nos anos 1990, o movimento fortaleceu sua organização, criando as Comissões e Coordenações de Mulheres e aprovando a cota de participação de, no mínimo, 30% de mulheres nas instâncias deliberativas dos Sindicatos, gerando as condições para a realização  da primeira  Marcha das Margaridas, em 2000.

Em 2019, as Margaridas – mulheres trabalhadoras do campo, da floresta e das águas – inovaram no modelo de financiamento: com  uma  campanha de captação de recursos nas redes sociais, a Marcha captou 153% da meta estabelecida. Assim, fortalecidas pela solidariedade nacional, em agosto as Margaridas  marcharão  em  Brasília  entoando o canto “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”.

Zezé Weiss – Jornalista, com dados oferecidos pela Assessoria de Imprensa da CONTAG.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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