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POVO SATERÉ-MAWÉ

O RITUAL DA TUCANDEIRA, REALIZADO PELO POVO SATERÊ-MAWÉ

O ritual da Tucandeira, realizado pelo povo Saterê-Mawé

O ritual da tucandeira, realizado pelo povo Sateré-Mawé, é uma forma de iniciação masculina, de passagem da infância para a vida adulta. Uma prática repassada de geração em geração que, mesmo com a pressão da sociedade moderna, se mantém viva.

Por Lúcio Flávio Pinto/ Real

Considerado pelos indígenas como um ato de força, coragem e resistência à dor, o ritual consiste em vestir uma luva cheia de formigas tucandeiras e resistir por ao menos 15 minutos. Além da representatividade da bravura masculina, o ritual também simboliza uma proteção para o corpo. Segundo a crença dos Sateré-Mawé, a ferroada da tucandeira funciona como uma espécie de vacina.

Durante o ritual, o jovem deve se deixar ferrar no mínimo 20 vezes. Para isso, coloca as mãos dentro da saaripé, uma luva de palha feita pelos padrinhos, que são os tios maternos do iniciante. Durante o ritual, a comunidade toda canta e dança ao lado do adolescente, em especial as solteiras, que buscam maridos fortes e corajosos.

O ritual começa no dia anterior, com a captura das formigas vivas e com ferrão, com o uso de folhas do caju-branco. Enquanto as tucandeiras são conservadas em um bambu, os meninos têm seus braços pintados com uma tintura preta de jenipapo, feita por suas mães. Em seguida, com um dente de paca, elas começam a riscar a pele dos meninos até sangrar.

No dia da cerimônia, as tucandeiras são colocadas em uma bacia com uma tintura anestesiante de folha de cajueiro. Quando estão ‘adormecidas’, as formigas são postas na luva, com a cabeça para fora e o ferrão para dentro, na parte interna da saaripé. Depois, para voltarem a ficar agitadas, elas recebem uma baforada de tabaco. É quando fi cam prontas para atacar.

Não há um período certo para a realização do ritual: é organizado conforme a vontade de quem deseja ser iniciado.

Fontes:  Verdade Mundial  Portal Amazônia (com edições de Eduardo Pereira)

tucandeira DIVUGACAO
Luvas de palha usadas no ritual de passagem da tucandeira, onde os adolescentes sateré-mawé devem suportar a dor das picadas da formiga tucandeira por 15 minutos. Foto: Divulgação

O POVO SATERÊ-MAWÉ

São chamados regionalmente “Mawés. Ao longo de sua , já receberam vários nomes, dados por cronistas, desbravadores dos sertões, missionários e naturalistas: Mavoz, Malrié, Mangnés, Mangnês, Jaquezes, Magnazes, Mahués, Magnés, Mauris, Mawés, Maragná, Mahué, Magneses, Orapium.

Autodenominam-se Sateré-Mawé. O primeiro nome – Sateré – quer dizer “lagarta de fogo, referência ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, aquele que indica tradicionalmente a linha sucessória dos chefes políticos. O segundo nome – Mawé – quer dizer “papagaio inteligente e curioso e não é designação clânica.

A língua Sateré-Mawé integra o tronco lingüístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é tupi. O vocabulário mawé contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não se relaciona a nenhuma outra família lingüística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral.

Os homens atualmente são bilíngües, falando o Sateré-Mawé e o português, mas, apesar de mais de três séculos de contato com os brancos, nas aldeias mais afastadas ainda se encontra mulheres que só falam a língua materna.

Os Sateré-Mawé habitam a região do médio rio , em duas , uma denominada TI Andirá-Marau, localizada na fronteira dos estados do Amazonas e do Pará, que vem a ser o território original deste povo, e um pequeno grupo na TI Coatá-Laranjal da etnia Munduruku.

Os Sateré-Mawé também são encontrados morando nas cidades de Barreirinha, Parintins, Maués, Nova Olinda do Norte e , todas situadas no estado do Amazonas.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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