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SOU TUPI, SOU GUARANI, SOU ANTÃ, DA COR DO AÇAÍ

SOU TUPI, SOU GUARANI, SOU ANTÃ, DA COR DO AÇAÍ

Sou Tupi, sou Guarani – Poema Tupi-Guarani

Caçador, e protetor dos angûeras…/Sou antã, e da cor do açaí,/Baquara e Anhanguera…

Por Marco Ramos

Sou um elemento vivo,
Irmão da terra, filho de Ceci…
Tupã, fez-me aqui um nativo,
Desta terra tupi-guarani…
~
Formada por itapetinga e caá,
Capororoca e coaraci…
Iluminada por Kamaiurá,
E repleta de Jacuí…
~
Onde se esconde o assary,
Dentro do maracanã de embaúba…
Onde o vento quebra o Quiriri,
E renova a vida de minha Atauúba…
~
Sou Tupi, sou Guarani,
Caçador, e protetor dos angûeras…
Sou antã, e da cor do açaí,
Baquara e Anhanguera…
~
Sou de Araruama e Ibitinga,
Onde há Guaratinguetás e Araúnas
Aguapés e remansos de restingas,
Ferozes Jaguaruna e mansas araraunas…
~
Aqui tem Ananás , Akaîu e caetés,
Japira, Jetica e garopaba…
E guarda no nhanduti o Jamé,
Dizendo que o Brasil é meu Aupaba…

SOU TUPI, SOU GUARANI, SOU ANTÃ, DA COR DO AÇAÍ
Foto: Lilian Brandt

Vocabulário

Açaí: fruta que chora.
Akaîu: caju.
Ananas: abacaxi.
Araraúna: arara preta.
Araruama: terra dos papagaios.
Araúna: ave preta.
Angûera: espírito.
Anhanguera: diabo velho.
Antã: forte, ágil, esperto.
Arassary: variedade de tucano.
Atauúba: flecha incendiária.
Aupaba: terra de origem.

Baquara: sabedor de coisas.

Caá: mato, folha.
Capororoca: de mato barulhento.
Ceci: mãe.
Caetê: de mato virgem ou verdadeiro.
Coaraci: o sol.

Embauba: de árvore oca.

Ibitinga: terra branca.
Itapitanga: pedras vermelhas.

Jacu: espécies de aves vegetarianas silvestres.
Jamé: oculto, misterioso, segredo.
Japira: mel.
Jaguaruna: de onça preta.
Jetica: batata-doce.

Kamaiurá: lua.

Garopaba: lagoa da canoa.
Guarani: guerreiro, lutador.
Guaratinguetá: reunião de pássaros brancos.

Maracanã: de casca grossa e rija.

Nhanduti: de teia de aranha.

Quiriri: vem de silêncio, sossego.

Leia mais: luso-poemas © Luso-Poemas

SOU TUPI, SOU GUARANI, SOU ANTÃ, DA COR DO AÇAÍ
Ikamiabas – Reprodução/Internet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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