O TRATAMENTO DAS DOENÇAS NO ARRAIAL DE COUROS

O TRATAMENTO DAS DOENÇAS NO ARRAIAL DE COUROS

O TRATAMENTO DAS DOENÇAS NO ARRAIAL DE COUROS

Como os médicos chegaram a Formosa somente no final do século dezenove, o tratamento das doenças, em Couros, era feito à maneira popular, à custa de rezas e benzeções, por curandeiros

Por Alfredo A. Saad

A administração dos remédios, provenientes da farmacopeia popular, preparado com ervas das matas e do cerrado, era feita por conta do doente ou de sua família.

Evidentemente, a proporção de curas sobre o total de doentes era mínima e, principalmente, devido ao acaso e aos mecanismos de defesa do organismo. Não havia como curar os sintomas surgidos após uma picada de cobra venenosa, pois o soro antiofídico difundiu-se na região somente após os anos quarenta. Se o animal não fosse venenoso, as rezas produziriam efeito rápido, o enfermo sarava, e o milagre fazia aumentar a fama do benzedor; se o réptil fosse venenoso, atribuía-se a Deus e à ira celeste a morte da vítima.

Na região, muitos acreditavam na excelência de algumas panaceias, especialmente preparadas por curandeiros notórios e destinadas ao combate aos efeitos das picadas venenosas. Na região de Formosa, no final do século vinte, ainda podiam-se encontrar fabricantes de pomadas miraculosas capazes de curar picadas de cobras.

Para essas picadas, existia, na região, desde os anos quarenta, e ainda encontrado, um substituto das benzeções, o preparado denominado “pó de Lafayette”, batizado com o nome do criador. Muitos criadores de gado ainda utilizam o herpetoprotetor porque confiam mais nele do que nos antídotos do Instituto Vital Brasil.

A composição do pó é desconhecida, mas supõe-se que ela seja uma combinação de extratos secos de plantas do cerrado e das matas do Planalto Central.

Como preventivo contra as doenças, em geral, era comum que as pessoas – principalmente as mulheres – pendurassem ao pescoço trouxinhas (patuás), contendo amuletos especiais, às vezes, simples pedaços de papel, no qual grafavam-se orações.

Aqueles mais ricos, possuíam escapulários pendentes ao pescoço, contendo fragmentos de ossos de santos milagrosos, por exemplo. Os homens, para não trazerem aqueles saquitéis à mostra, guardavam-nos nos bolsos – mas não os dispensavam, nunca.

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Imagem: Cachoeira do Bisnau, Formosa- Goiás

cRe8M9lS 400x400 1Alfredo A. Saad – Escritor formosense, em Álbum de Formosa um ensaio da história de mentalidades, obra póstuma, 2013.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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