Mudanças climáticas

Observatório do Clima: Desde 1850, 2018 foi o quarto ano mais quente da História

2018: O quarto ano mais quente da História moderna

Pessoas deslocadas por eventos climáticos extremos foram 2 milhões, diz Organização Meteorológica Mundial; 59 milhões de africanos foram expostos a desnutrição por secas e

Mudanças climáticas
O furacão Lane girando ao sul do Havaí (Foto: Nasa)
DO OC – O ano de 2018 foi o quarto mais quente da desde que os registros começaram a ser feitos, em 1850. Perdeu apenas para 2016, 2017 e 2015. Isso quer dizer que os quatro últimos anos foram todos os mais escaldantes desde o início das medições com termômetros.Os dados são do relatório Estado do Clima Global, da Organização Meteorológica Mundial, a OMM. Divulgado todos os anos pouco antes das conferências do , o documento faz um compilado dos extremos climáticos do ano – um alerta para os negociadores de 196 países que se reunirão dias depois para tentar chegar a acordos sobre a melhor maneira de enfrentar esses extremos. A reunião deste ano começa no próximo domingo em Katowice, Polônia.Segundo o relatório, a temperatura global até outubro de 2018 foi 0,98oC maior que a média da era pré-industrial (1850 a 1900). Entre 2014 e 2018, a média foi de 1,04oC. Neste ano, um fenômeno La Niña, o resfriamento cíclico das águas do oceano Pacífico, ajudou a abaixar os termômetros ligeiramente no mundo todo. Em 2016, o oposto aconteceu: um forte turbinou o esquentamento recorde.Mas sem a tendência subjacente de El Niño não teria esquentado tanto o mundo dois anos atrás e a La Niña o teria resfriado mais. Os quatro recordes consecutivos indicam que, mesmo removendo a variabilidade natural cíclica, o clima segue em marcha inexorável de aquecimento. Além disso, há sinais de um El Niño retornando em 2019, o que pode tornar o ano que vem mais quente do que este.

O gelo marinho no oceano Ártico teve sua segunda menor extensão máxima e sua quarta menor extensão mínima. O teor de calor nos oceanos foi, de janeiro a setembro, o maior ou o segundo maior da história, e o número de ciclones tropicais (furacões e tufões) foi maior do que a média.

Extremos de calor também marcaram o ano, em especial no hemisfério Norte. A OMM relata a onda de calor que atingiu a Escandinávia no primeiro semestre, causando incêndios florestais raros acima do Círculo Polar Ártico. A gélida Helsinque, na Finlândia, cuja média de temperatura no mês mais quente do ano é 17oC, viu 25 dias seguidos de calor acima de 25oC. O Japão e a Coreia do Sul bateram recordes nacionais de calor (41,1oC e 41oC, respectivamente), e uma cidade de Omã registrou a maior temperatura noturna já medida na – 42,6oC. Neste mês, incêndios florestais arrasam partes da Califórnia, nos EUA, com 79 mortos no incêndio Camp – e contando.

Também houve frio intenso na Europa em fevereiro e março, uma das ondas de frio mais severas dos últimos anos (calma, Ernesto: extremos de frio também são previstos num mundo em aquecimento; entenda por que neste vídeo).

Neste ano, a OMM também computou os impactos socioeconômicos dos eventos extremos. Em 2017, ano para o qual há dados disponíveis, a associada a eventos climáticos afetou 59 milhões de pessoas apenas no continente africano. No mundo inteiro, das 17,7 milhões de pessoas forçadas a deixar seus lares, 2 milhões o fizeram por conta de eventos climáticos, segundo o relatório.

No começo de outubro, o IPCC, o painel de climáticos da ONU, publicou um relatório especial mostrando que a terá 12 anos para cortar 45% das suas emissões se quiser evitar um aquecimento global potencialmente catastrófico acima de 1,5oC. Na última terça-feira, a ONU lançou outro relatório indicando que mesmo para a meta menos ambiciosa de estabilizar o aquecimento em menos de 2oC será preciso triplicar os esforços.

“Nós não estamos no rumo de cumprir as metas climáticas e conter os aumentos de temperatura”, disse o secretário-geral da OMM, o finlandês Petteri Taalas. “As concentrações de gases de efeito estufa estão mais uma vez em níveis recorde e, se a tendência atual continuar, poderemos ver aumentos de temperatura de 3oC a 5oC no fim do século.” Taalas lembrou uma frase famosa do ex-presidente americano Barack Obama: “Vale repetir que nós somos a primeira geração a entender completamente as mudanças climáticas e a última que ainda pode dar um jeito nelas.”

ANOTE AÍ

Fonte: Observatório do Clima

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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