TOCA DA ONÇA: MEMÓRIA DA FORMOSA DE ONTEM

TOCA DA ONÇA: MEMÓRIA DA FORMOSA DE ONTEM

Toca da Onça: Memória da Formosa de ontem, contada pelos moços de hoje

A história de Formosa remete, ao contrário do que o senso comum possa fazer crer, a mais de 4.500 anos, pelo menos. Vestígios encontrados em sítios arqueológicos demonstram que havia no município, muito antes da chegada dos primeiros bandeirantes, civilizações indígenas habitando o Planalto Central do Brasil, a região em que foi instalada Brasília e, consequentemente, onde se encontra Formosa-GO…

Por Francisco Paulo Falbo Gontijo

Os vestígios arqueológicos mais importantes encontrados no Vale do Paranã são do período arcaico, no final do Paleoíndio, no qual populações utilizavam os abrigos naturais de maneira instável e tinham alimentação baseada na coleta. Na região do Paranã, a ocorrência do relevo cárstico (calcário), com suas grutas e lajedos, deve ter sido propícia a essas populações; existem alguns vestígios, como pegadas de animais e pinturas rupestres com motivos geométricos.

Há, nos limites do território do município, pelo menos dois importantes sítios arqueológicos que remontam a história do município à Pré-História: os sítios arqueológicos da Toca da Onça e do Bisnau.

Localizado a cerca de 8 quilômetros do perímetro urbano de Formosa, o Sítio Arqueológico Toca da Onça é, na verdade, um complexo composto de diversos sítios com inscrições rupestres em grutas e lapas que, apesar da imprecisão, datam de, pelo menos, 4.500 anos atrás, embora haja divergências. A região encontra-se no vão do Rio Paranã, um dos principais afluentes do Tocantins.

Gravadas nas rochas calcárias comuns na região, as pinturas estão presentes em numerosas lapas e tetos de grutas; vestígios daqueles que provavelmente foram os habitantes daquela região. Pintadas em tons de vermelho e preto, com material que não se pode afirmar com exatidão qual seja, as pinturas rupestres da Toca do Onça trazem figuras de animais, pegadas, cenas muito provavelmente do cotidiano daquele povo. Há, ainda, algumas pinturas de formas geométricas, às quais ainda não foi possível atribuir um significado ou motivo, mas que, de toda forma, demonstram uma coordenação motora e um conhecimento relativamente desenvolvidos daquela população.

Pode-se concluir, ainda que sempre provisoriamente, que um grupo ou grupos de caçadores e coletores viveram na região, tendo as cavernas como abrigo e a fauna e a flora do cerrado e do planalto como fonte de subsistência. Pesquisas alternativas não só apontam que há semelhanças entre as figuras encontradas na Toca da Onça com as encontradas na região de Sete Cidades, no Piauí, como com as encontradas em diversos outros sítios arqueológicos, numa clara sinalização de que esses povos não vieram de Formosa e nem aqui permaneceram.

Foto de capa: Secretaria de Turismo de Formosa

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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