RUA DOS CRIOULOS, A PRIMEIRA RUA DE FORMOSA
Não é muito difícil, hoje, imaginar a primeira rua de casas, com a aparência de rua verdadeira, no arraial de Couros. Diz a lenda que, tangidos por doenças que assolavam o Arraial de Santo Antonio, nas proximidades da Cachoeira do Itiquira, no Vão do Paranã, os habitantes reuniram suas coisas, seus cacaréus e mudaram-se para um sítio mais saudável – o local onde hoje ergue-se Formosa.
Por Alfredo A. Saad
Na verdade, a mudança e o consequente abandono de Santo Antonio deve, sim, ter sido motivado, em parte, por doenças, malária, em especial, muito comum na região do Paranã, mas, principalmente, deve ter-se realizado porque a proximidade do Registro da Lagoa Feia certamente tornaria possíveis melhores negócios para quem vivia do comércio de pele de animais, carne seca e de couro de gado. (…).
A rua de casas de coqueiro (possivelmente, algumas cobertas de capim agreste), formou-se às margens do pequeno córrego afluente do Brejo – Josefa Gomes – que corria a céu aberto no centro da cidade de Formosa até meados da década de 1960.
Esse córrego, que nunca recebeu um nome, era formado pelas águas do córrego do Abreu e pelas águas de uma nascente localizada no atual largo do Cemitério. Assim, ele tinha água abundante, mesmo no período mais seco do ano.
Por sua vez, o córrego do Abreu corria desde o alto da planura, próximo do lugar onde hoje está o aeroporto. À margem da corrente de água resultante dos dois, beirando o primeiro, nasceu a rua dos Crioulos e nasceu Formosa.
A rua dos Crioulos, mais tarde rua do Norte, era um alinhamento de choupanas, apenas. Era uma rua pequena e larga, que se iniciava onde hoje passa a Rua Visconde e morria num rasgo onde mais tarde foi construído um muro transversal que lhe cortava o caminho.
Um quarteirão, apenas. Um quarteirão longo, comparando-se com os outros quarteirões da cidade, formando uma rua em arco, segundo o traçado do córrego que a dividia ao meio.
Ladeando o córrego, dezenas de eucaliptos, plantados muito mais tarde, nos anos trinta do século vinte, cumpriram a tarefa de reduzir a umidade do solo, bastante brejoso perto da passagem, sob o muro do final da rua.
Quantos ranchos de palha essa rua teve, no início, nunca se sabe. Não devem ter sido numerosos, pois, mesmo reduzidamente espaçados entre si, o seu número não poderia ultrapassar vinte fogos, dez de cada lado do córrego. Vinte ranchos, no máximo.
Esse número, contudo, provavelmente seria menor, porque, logo, algum espaço daquela rua inicial foi tomado para a construção da casa de orações do povoado. Em algum lugar naquela rua, então, erigiu-se a primeira igreja de Couros.
Alfredo A. Saad (1938-2011) – Escritor formosense, em Álbum de Formosa – um ensaio da história de mentalidades, obra póstuma, 2013. Foto: Arquivos Publico