Finados Balaios de Cruz das Almas

OS FINADOS DA BALAIADA, A GUERRA DOS BEM-TE-VIS

OS FINADOS DA BALAIADA, A GUERRA DOS BEM-TE-VIS

A Balaiada, chamada ainda Guerra dos Bem-te-vis, foi a mais longa e numerosa revolta popular iniciada no Maranhão, que teve início em 13 de dezembro de 1838 e durou até o ano de 1841.
Por José Gil Barbosa Terceiro/Causos Assustadores do Piaui

Ali, a revolta foi liderada por homens pobres, mestiços e também escravos, devido ao sentimento de opressão que sentiam em relação aos prefeitos, cargo criado por uma administração conservadora do presidente da província Camargo.

Pediam eles o direito à cidadania e à propriedade da terra, buscando o fim de novas arbitrariedades instituídas pelas oligarquias regionais que haviam subido ao poder após a proclamação da independência, além do fim de recrutamentos violentos.

Com essas reivindicações, os revoltosos enfrentavam os grandes latifundiários, senhores de escravos, autoridades provinciais e comerciantes, bem como um sem-número de jagunços a serviço destes.

O movimento dispersou-se, após uma tentativa frustrada de invasão da capital da província, São Luís, onde os balaios sofreram forte repressão de um destacamento da Guarda Nacional, e alcançou as províncias do Piauí e, em menor escala, o Ceará.

Com a chegada dos rebeldes ao Piauí, a camada pobre adere ao movimento, pois estavam insatisfeitos com o governo de Sousa Martins. A primeira batalha em território piauiense acontece em Barra do Rio Longá, em fevereiro de 1839.

Diferentemente do que ocorreu no Maranhão, a Balaiada no Piauí ganha o apoio pessoas tidas como gradas, fazendeiros abastados e famílias da aristocracia que faziam oposição à elite a que se opunham os balaios lutaram ao lado dos anônimos rebeldes, cabras, vaqueiros e agregados miseráveis.

Há quem diga que a Balaiada piauiense – caso inédito em nossa História! – constituiu-se na cisão das oligarquias a se digladiarem ferozmente, arrastando consigo a multidão de cabras, vaqueiros e agregados transformados em combatentes. E, nesse engajamento geral, apenas os escravos não participaram diretamente da luta.

Assim, enquanto no Maranhão o movimento era liderado pelas camadas pobres da sociedade, no Piauí, a elite oposicionista, aproveita os ideais e a onda revolucionária, para fazer com que os pobres ajam, em conjunto com eles, em defesa de seus interesses.

Muitas cidades piauienses – Piracuruca, Parnaíba, Vila do Poti, Estanhado (União), povoado de Frecheiras, Parnaguá, Ribeiras, vales do Gurguéia, Gilbués, Jerumenha, Uruçuí, Paraim, Jaicós, São Gonçalo e Príncipe Imperial (Crateús, hoje do Ceará), Curimatá e Egito (Campo Maior), são ocupadas pelos “rebeldes”. A exceção é a capital Oeiras.

Houve conflitos em muitas outras cidades, inclusive, no que nos interessa no momento, em Cristino Castro, na região hoje conhecida como Cruz das Almas, que fica a cerca de 3 Km da zona urbana da cidade, na BR-135, Km 322, saída para Bom Jesus.

Ali existe hoje uma capela dedicada a Santo Antonio e, próximo dela, podem ser vistos alguns túmulos. O que se sabe é que no século XIX o lugar foi palco de um intenso conflito entre os balaios piauienses e seus adversários, de modo que muitos corpos estariam enterrados ali, alguns sem sepultura indicando o local. Ainda perto do templo religioso há uma área cercada por uma mureta na qual se vêem cruzes de madeira.

O que o povo de Cristino Castro conta é que, como aquelas pessoas morreram em intenso sofrimento, em meio a um conflito em que defendiam (ao menos em tese) ideais justos, teriam sido purgadas de seus pecados, elevando suas almas a um nível de santidade de tal modo, que passaram a ser considerados mártires milagrosos.

Assim, visitam o lugar para fazer promessas a fim de alcançarem graças em momentos de aflição, visando curas e soluções para outros problemas e aflições. Em agradecimento, ao receberem as graças solicitadas, acendem velas e depositam ex-votos no lugar.

Algumas pessoas, dotadas de sensibilidade mediúnica, dizem, inclusive, ver os espíritos dos balaios, protetores da gente daquela cidade, vagando por ali. Alguns, diante da aparição, chegam a sentir medo, acreditando serem almas penadas, mas os devotos, que frequentam a região assiduamente, sabem que se tratam de espíritos guardiões. Mesmo depois de tanto tempo desencarnados, os espíritos dos sertanejos balaios, ainda persistem em ajudar os cristino-castrenses.

Bibliografia:

BRANDIM, Sérgio Romualdo Lima. ROMEIRO E FÉ: UM ESTUDO SOBRE O SANTUÁRIO DE SANTA CRUZ DOS MILAGRES. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História, do centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí, para obtenção do Grau de Mestre em História do Brasil. Orientador: Prof. Dr. Antônio de Pádua Carvalho Lopes. Teresina, PI: UFPI, 2007.

FORTES, José; FORTES, Juliana. O Piauí e a Balaida (1838-1841). Meio Norte, 12 de junho de 2011. Disponível em: <https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/a-balaiada-foi-uma-revolta-de-carater-popular-168688>. Acesso em 29 de maio de 2019.

FORTES, José; FORTES, Juliana. A Balaiada foi uma revolta de caráter popular. Meio Norte, 09 de setembro de 2009. Disponível em: <https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/o-piaui-e-a-balaiada-1838-1841-99304>. Acesso em 29 de maio de 2019.

TEMPORAL, Calebe. Histórias de ‘trancoso’ de Cristino Castro. Catinga de Porco, 30 de novembro de 2010. Disponível em: <https://www.catingadeporco.com.br/2010/11/historias-de-trancoso-de-cristino_30.html>. Acesso em 29 de maio de 2019.

VERAS, Rosângela Mourão. A BALAIADA NO PIAUÍ: UMA ANÁLISE A PARTIR DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA. In: ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.

WIKIPÉDIA. Balaiada (verbete). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Balaiada>. Acesso em 29 de maio de 2019.

Fonte: Matéria (texto e imagem) publicada originalmente em Causos Assustadores do Piaui.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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