OS FINADOS DA BALAIADA, A GUERRA DOS BEM-TE-VIS
Ali, a revolta foi liderada por homens pobres, mestiços e também escravos, devido ao sentimento de opressão que sentiam em relação aos prefeitos, cargo criado por uma administração conservadora do presidente da província Camargo.
Pediam eles o direito à cidadania e à propriedade da terra, buscando o fim de novas arbitrariedades instituídas pelas oligarquias regionais que haviam subido ao poder após a proclamação da independência, além do fim de recrutamentos violentos.
Com essas reivindicações, os revoltosos enfrentavam os grandes latifundiários, senhores de escravos, autoridades provinciais e comerciantes, bem como um sem-número de jagunços a serviço destes.
O movimento dispersou-se, após uma tentativa frustrada de invasão da capital da província, São Luís, onde os balaios sofreram forte repressão de um destacamento da Guarda Nacional, e alcançou as províncias do Piauí e, em menor escala, o Ceará.
Com a chegada dos rebeldes ao Piauí, a camada pobre adere ao movimento, pois estavam insatisfeitos com o governo de Sousa Martins. A primeira batalha em território piauiense acontece em Barra do Rio Longá, em fevereiro de 1839.
Diferentemente do que ocorreu no Maranhão, a Balaiada no Piauí ganha o apoio pessoas tidas como gradas, fazendeiros abastados e famílias da aristocracia que faziam oposição à elite a que se opunham os balaios lutaram ao lado dos anônimos rebeldes, cabras, vaqueiros e agregados miseráveis.
Há quem diga que a Balaiada piauiense – caso inédito em nossa História! – constituiu-se na cisão das oligarquias a se digladiarem ferozmente, arrastando consigo a multidão de cabras, vaqueiros e agregados transformados em combatentes. E, nesse engajamento geral, apenas os escravos não participaram diretamente da luta.
Assim, enquanto no Maranhão o movimento era liderado pelas camadas pobres da sociedade, no Piauí, a elite oposicionista, aproveita os ideais e a onda revolucionária, para fazer com que os pobres ajam, em conjunto com eles, em defesa de seus interesses.
Muitas cidades piauienses – Piracuruca, Parnaíba, Vila do Poti, Estanhado (União), povoado de Frecheiras, Parnaguá, Ribeiras, vales do Gurguéia, Gilbués, Jerumenha, Uruçuí, Paraim, Jaicós, São Gonçalo e Príncipe Imperial (Crateús, hoje do Ceará), Curimatá e Egito (Campo Maior), são ocupadas pelos “rebeldes”. A exceção é a capital Oeiras.
Houve conflitos em muitas outras cidades, inclusive, no que nos interessa no momento, em Cristino Castro, na região hoje conhecida como Cruz das Almas, que fica a cerca de 3 Km da zona urbana da cidade, na BR-135, Km 322, saída para Bom Jesus.
Ali existe hoje uma capela dedicada a Santo Antonio e, próximo dela, podem ser vistos alguns túmulos. O que se sabe é que no século XIX o lugar foi palco de um intenso conflito entre os balaios piauienses e seus adversários, de modo que muitos corpos estariam enterrados ali, alguns sem sepultura indicando o local. Ainda perto do templo religioso há uma área cercada por uma mureta na qual se vêem cruzes de madeira.
O que o povo de Cristino Castro conta é que, como aquelas pessoas morreram em intenso sofrimento, em meio a um conflito em que defendiam (ao menos em tese) ideais justos, teriam sido purgadas de seus pecados, elevando suas almas a um nível de santidade de tal modo, que passaram a ser considerados mártires milagrosos.
Assim, visitam o lugar para fazer promessas a fim de alcançarem graças em momentos de aflição, visando curas e soluções para outros problemas e aflições. Em agradecimento, ao receberem as graças solicitadas, acendem velas e depositam ex-votos no lugar.
Algumas pessoas, dotadas de sensibilidade mediúnica, dizem, inclusive, ver os espíritos dos balaios, protetores da gente daquela cidade, vagando por ali. Alguns, diante da aparição, chegam a sentir medo, acreditando serem almas penadas, mas os devotos, que frequentam a região assiduamente, sabem que se tratam de espíritos guardiões. Mesmo depois de tanto tempo desencarnados, os espíritos dos sertanejos balaios, ainda persistem em ajudar os cristino-castrenses.
Bibliografia:
BRANDIM, Sérgio Romualdo Lima. ROMEIRO E FÉ: UM ESTUDO SOBRE O SANTUÁRIO DE SANTA CRUZ DOS MILAGRES. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História, do centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí, para obtenção do Grau de Mestre em História do Brasil. Orientador: Prof. Dr. Antônio de Pádua Carvalho Lopes. Teresina, PI: UFPI, 2007.
FORTES, José; FORTES, Juliana. O Piauí e a Balaida (1838-1841). Meio Norte, 12 de junho de 2011. Disponível em: <https://www.meionorte.com/
FORTES, José; FORTES, Juliana. A Balaiada foi uma revolta de caráter popular. Meio Norte, 09 de setembro de 2009. Disponível em: <https://www.meionorte.com/
TEMPORAL, Calebe. Histórias de ‘trancoso’ de Cristino Castro. Catinga de Porco, 30 de novembro de 2010. Disponível em: <https://www.catingadeporco.
VERAS, Rosângela Mourão. A BALAIADA NO PIAUÍ: UMA ANÁLISE A PARTIR DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA. In: ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
WIKIPÉDIA. Balaiada (verbete). Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
Fonte: Matéria (texto e imagem) publicada originalmente em Causos Assustadores do Piaui.