PARTIU DEDÊ MAIA: GIGANTE DO INDIGENISMO BRASILEIRO
Encantou-se nossa querida Dedê, ou Djacira Maia, mulher acreana, das primeiras e poucas indigenistas reconhecidas neste lugar. Dedê e sua trajetória dedicada à causa dos povos indígenas, vez ou outra cruzava também com as lutas que as populações extrativistas travavam contra a violência praticada contra elas.
Por Angela Mendes
No pouco contato que tivemos, ela me contou de como conheceu e contribuiu na implementação do Projeto Seringueiro de alfabetização dos adultos moradores dos seringais e nos diálogos sobre a Aliança dos Povos da Floresta. Aliás, sobre a Aliança é justo dizer que a Dedê teve muito a contribuir, dada sua intensa vivência junto aos Povos originários.
Mas isso não é tudo que se pode falar sobre ela. Lendo os depoimentos de muitos e de muitas de suas companheiras se percebe o quanto de Dedê existe na educação, na cultura, na pesquisa e na demarcação de terras indígenas, o quanto ela doou de si nesses processos.
Por outro lado, revendo suas falas, suas entrevistas e sua incrível presença no Papo de Índio, também se percebe o quanto ela absorveu, aprendeu e viveu tudo isso, da melhor forma.
Em 2023, em alusão aos 35 anos do assassinato de meu pai, nós homenageamos 35 pessoas e instituições cuja atuação tenha consonância com os princípios de vida e com a luta por justiça social que ele defendia e tivemos a grande honra de podermos celebrar a vida dessa mulher incrível.
Pra nós, isso foi grandioso, mas infelizmente Dedê não conseguiu comparecer pra receber a homenagem, que foi entregue à Vera Olinda, outra mulher potente que tem uma história a ser também reverenciada e que hoje está à frente da Comissão dos Povos Indígenas do Acre – CPI Acre.
Dedê, assim como muitas outras mulheres que se dedicam às grandes causas, viveu à frente do seu tempo, lutou como a brava guerreira que era e seu corpo descansou na eternidade, mas seu legado e sua existência continuarão sendo reverenciados por tudo que ela foi e continuará sendo nas presentes e futuras gerações, pois como bem disse João Guimarães Rosa, “As pessoas não morrem, elas ficam encantadas. A gente morre é pra provar que viveu”.
Angela Mendes – Presidenta do Comitê Chico Mendes. Conselheira da Revista Xapuri. Foto: Divulgação.