PETER FRANKOPAN: O PRIMEIRO GRANDE HISTORIADOR DO SÉCULO XXI

PETER FRANKOPAN: O PRIMEIRO GRANDE HISTORIADOR DO SÉCULO XXI

PETER FRANKOPAN: O PRIMEIRO GRANDE HISTORIADOR DO SÉCULO XXI

O inglês Peter Frankopan é o primeiro grande historiador do século XXI. Mesmo o maior historiador do século XX, Eric Hobsbawm, pecava pelo eurocentrismo. A Ásia era uma periferia da Europa.

Por Emir Sader

As principais obras de Frankopan são: “O coração do mundo – Uma nova história universal a partir da Rota da Seda: o encontro do Oriente com o Ocidente”, “A história do mundo – Do Big Bang até os dias de hoje” e “As novas Rotas da Seda – Presente e Futuro do Mundo”.

Frankopan se apoia na ideia das “rotas da seda”. A expressão serve para descrever as formas em que se relacionaram povos, culturas e continentes, e, ao fazê-lo, nos ajuda a compreender melhor o modo como, no passado, se propagaram as religiões e os idiomas, além de mostrar como, nesta parte do mundo, distintas ideias acerca da comida, da moda e da arte se difundiram, competiram entre si e influenciaram umas às outras. As rotas da seda ajudam a esclarecer o lugar central que ocupa o controle dos recursos e o comércio de longa distância. Peter Frankopan 

Os últimos anos deixaram claro que, por mais traumática ou cômica que possa parecer-nos a vida política nos tempos do Brexit, são os países da rota da seda os que de verdade importam no século XXI. No mundo atual, as decisões realmente transcendentais não são tomadas em Londres, Paris, Berlim ou Roma, mas em Pequim e Moscou, Teerã e Riad, Delhi e Islamabad, em Cabul e no Afeganistão, Ancara, Damasco e Jerusalém. O passado do mundo foi definido pelo que ocorria ao longo das rotas da seda; e o mesmo acontecerá no futuro. Peter Frankopan 

Desde 2015, o mundo viveu uma mudança espetacular. Naquele momento, Frankopan escreveu que a vida no Ocidente estava se tornando mais difícil e desafiadora. Agora, a nova eleição de Trump projeta um futuro difícil de definir.

A Rússia, por sua vez, introduziu um novo capítulo em suas relações com o Ocidente, resistindo e superando as penalidades impostas ao país, e retomando a iniciativa política e militar.

Já vivemos no século asiático, uma época em que o PIB global está se deslocando das economias desenvolvidas do Ocidente para as do Oriente em uma escala e uma velocidade assombrosas. Algumas projeções preveem que, em 2050, a renda per capita, em termos de paridade do poder aquisitivo, se multiplicará por seis na Ásia, o que tornará ricos outros três bilhões de habitantes do continente. Ao duplicar praticamente sua participação no PIB global, até 52%, a Ásia recuperará a posição econômica dominante que tinha há uns 300 anos, antes da Revolução Industrial.

O ritmo com que a Ásia está crescendo e as dimensões das transformações que está vivendo são impressionantes. Para o ano de 2027, o PIB combinado das cidades asiáticas já será maior que a soma das norte-americanas e europeias. E, oito anos depois, as superará em 17%.

O principal dos novos projetos é a iniciativa “Um cinturão, uma rota”, pilar da política econômica do governo chinês, que utiliza as antigas rotas da seda terrestres e marítimas como base para os planos de longo prazo da China.

As rotas da seda, afirma Frankopan, aparecem de novo. Vale a pena segui-las com atenção para entender como e por que nos afetarão a todos.

Emir Sader – Sociólogo. Conselheiro da Revista Xapuri. Matéria publicada originalmente no Brasil 247. Capa: Diogo Ventura.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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