POEMA TEU

POEMA TEU

Poema Teu

Um ano a mais
A menos?
Baba…Tata…
velho-novo-velho
Não importa
tanto chão
A nos separar
estamos, para sempre
Ligados.
Unidos.
Entrelaçados
nessa
Nuvem-fumaça
amor
Ervas e esperança!
Importa a saudade
Que aperta e estrangula
Em lágrimas
Embaça a vista
abre a minha alma-
Coração-espírito
Dando passagem –
rito maduro e consciente
Para o presente:
Meu amado,
Guardei-te em meu oco
Cuidei-te com esmero,
Ensino incisivo
Esforço instintivo,
vindo de nossas ancestrais forças
Construí com peles
que te sobraram
numa eclosão sofrida: Asas!
Fogo transforma: Obá Xiré!
Renascido:
ser místico,
alado, profundo
A superfície
não te contempla
Não te contenta
O menino
Viaja
Ícaro, Narciso, Potter,
Dinossauro, Laura Ingalls, cavalgadas,
Montaria perfeita
Etiquetas sociais
Deidades…
Tu tens bagagens…
Tua magia
Teu encanto
Tua elegância
Feitos na forja da chama:
Força, beleza, ternura, bondade que emana
sendo tanta, derrama.
E, se antes,
quisera tua presença
quero mais ainda:
teu lastro
na resplandecência
de teus
compromissados atos
Tuas tão significantes conquistas
Teu evolutivo voo
Filho, irmão, tio
Amigo, Mestre
Que sempre volta
Consola e basta
Teu és o redondo cosmos
As esferas energéticas
Os astros
O telúrico
As chamas das velas
As fases da lua
O brilho do sol
Os seis elementais
Tudo teu – desde antes
De teu tempo semente
Útero: pequeno espaço
Para um ser gigante.
Daqui te envio
infinito beijo
Protetor abraço
Tu já sabes,
Mas te escrevo
que o todo saiba:
É filho meu!
Amor fecundo!
Orgulho meu!
Maior do mundo!

IMG 2415Iêda Vilas Bôas

sitio topo morro 102.05.04.2021

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA