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Ausência

“POR MUITO TEMPO ACHEI QUE AUSÊNCIA É FALTA” …

Por muito achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade  – In: Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

"POR MUITO TEMPO ACHEI QUE AUSÊNCIA É FALTA" ...

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um destacado poeta, farmacêutico, contista e cronista brasileiro, amplamente reconhecido como um dos mais influentes poetas do Brasil no século XX.

Ele fez parte da segunda geração do modernismo brasileiro, mas sua produção literária ultrapassou as fronteiras das formas e temas dos movimentos específicos.

A obra de Drummond abrange uma ampla gama de temas, desde questões existenciais, como o propósito da vida e a da morte, até tópicos cotidianos, familiares e políticos, incluindo o socialismo.

Sua escrita dialoga com diversas correntes literárias de sua época, tanto tradicionais quanto contemporâneas. Além disso, sua obra é caracterizada por uma diversidade formal e estilística, frequentemente evidenciando o dialeto mineiro.

Drummond nasceu em Itabira, Minas Gerais, e as memórias dessa cidade influenciaram parte significativa de sua obra. Seus antepassados, tanto do lado materno quanto paterno, eram originários de famílias escoto-madeirenses, estabelecidas no Brasil há muito tempo.

Mais tarde, estudou no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte, e no Colégio Anchieta, dos jesuítas, em Nova Friburgo. Formado em farmácia pela Federal de Minas Gerais, fundou, junto com Emílio Moura e outros colegas, a revista “A Revista”, com o objetivo de promover o modernismo no Brasil.

No mesmo ano em que publicou sua primeira obra poética, “Alguma ” (1930), Drummond teve seu poema “Sentimental” declamado na conferência “Poesia Moderníssima do Brasil”, realizada durante o curso de férias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A conferência foi proferida pelo professor Manoel de Souza Pinto, da Cadeira de Estudos Brasileiros, no contexto da de divulgação da nas universidades portuguesas.

Na década de 1940, Drummond ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e chegou a dirigir um jornal do partido no Rio de Janeiro, onde entrevistou o dirigente Luis Carlos Prestes enquanto este ainda estava na prisão. Sua colaboração também foi notável no semanário “Mundo Literário” (1946–1948) e na revista luso-brasileira “Atlântico”.

Durante a maior parte de sua vida, Drummond trabalhou como funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e continuado até seu falecimento em 1987 no Rio de Janeiro, apenas doze dias após a morte de sua filha.

Além de poesia, ele produziu livros infantis, contos e crônicas. Sua morte foi causada por um infarto do miocárdio e insuficiência respiratória.

Estilo Literário

Carlos Drummond de Andrade, seguindo a linha dos modernistas, adota a proposta de liberdade estética de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, usando o verso livre e dispensando a rigidez de um metro fixo. No espectro do modernismo, se distinguirmos entre uma vertente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond se alinha à segunda, ao lado de Oswald de Andrade.

Embora Drummond tenha se destacado como um dos primeiros grandes poetas a emergir após os primeiros modernistas, isso não o classifica estritamente como um modernista. Ele incorporou a liberdade linguística, o verso livre e os temas cotidianos do modernismo, mas sua obra vai além dessas características.

Affonso Romano de Sant’ana analisa a poesia de Drummond através da interação entre o “eu” e o “mundo”, identificando três posturas principais:

  • Eu superior ao mundo — refletida na poesia irônica
  • Eu inferior ao mundo — evidenciada na poesia social
  • Eu igual ao mundo — que inclui a poesia metafísica

A poesia política de Drummond, ainda em formação na época, é moldada pelo contexto da Guerra Fria, marcado pelo neocapitalismo, pela tecnocracia e por diversas ditaduras. Este cenário influenciou profundamente a visão artística de Drummond, que frequentemente retornava à sensibilidade crua de seus primeiros poemas, como exemplificado por versos como: “A poesia é incomunicável / Fique quieto no seu canto. / Não ame.”

Sobre sua visão política, Drummond mencionou em “O Observador no Escritório” (1985) que, de forma curiosa, sua filosofia se dividia: “Do pescoço para baixo sou marxista, porém do pescoço para cima sou espiritualista e creio em Deus.” No final da década de 1980, o erotismo começa a se destacar em sua poesia, estendendo-se até o seu último livro.

Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros do século XX, deixou um legado literário vasto e profundo. Sua obra, que abrange poesia, contos, crônicas e livros infantis, reflete uma rica diversidade temática e estilística, desde questões existenciais até críticas sociais e políticas.

Sua influência se estendeu não apenas pela literatura, mas também pela sua atuação política e participação em publicações importantes.

Apesar de ter trabalhado como funcionário público durante grande parte de sua vida, sua paixão pela escrita nunca diminuiu. Drummond continuou a produzir até seus últimos dias, deixando uma marca indelével na brasileira.

Sua contribuição à literatura e à sociedade permanece relevante e inspiradora, perpetuando sua e seu impacto por gerações.

Fonte: Brasil

"POR MUITO TEMPO ACHEI QUE AUSÊNCIA É FALTA" ...

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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