Por que você, Lula, são muitos!

Por que você, , são muitos!

O menino de sua mãe

Por Tânia Maria Machado Bentes para Lula

Querido Lula!

Quando me apareceu a oportunidade de escrever uma para você, ao lado da felicidade que isso me trouxe, cutucou-me o incômodo de perceber que eu não teria apenas um destinatário. Por que você, Lula, são muitos!

Você é o avô enlutado pela partida do Arthur e saudoso dos outros netos que seguem privados do seu abraço – ainda que não do seu – um amor que ninguém conseguirá nunca encarcerar.

Você é o pai de filhos dignos que resistem com serenidade aos ataques persecutórios de seus algozes.

Você é viúvo de Dona Marisa, a companheira de particular e pública que, com suas mãos habilidosas, costurou a primeira bandeira do PT e fez brilhar em todos nós a estrela vermelha!

Você é o jovem trabalhador de bicos e serviços pesados, o metalúrgico que conduziu a companheirada à luta por seus direitos… E que se tornou, então, o político carismático que enfrentava desde sempre o preconceito e o ódio das elites. E após tantas batalhas foi diplomado Presidente do Brasil!

E você, Lula, é principalmente o filho de dona Lindu! Essa mestra da resistência, a pobre e analfabeta que lhe ensinou a maior de suas lições: “Tem que teimar!”.

O menino de D. Lindu tem uma estrela no lugar do coração!

É livre como um passarinho e forte como um carcará!

O menino de dona Lindu, Lula, canta aí nos seus , brilha nas suas palavras, arrebata todos que o visitam!

O menino de dona Lindu, que com ela brigou contra a fome, venceu esse flagelo e deu essa vitória a milhões de outros meninos desse país!

“Tem que teimar, Lula!”

Também nos aprendemos com dona Lindu e teimamos!

Queremos você, Lula, livre!

Com amor, Tânia.

Volta Redonda-RJ, 23 de março de 2019

Tânia Bentes é professora.

Fonte: As cartas que Lula não recebeu, p. 234, Coletânea organizada por Cleusa Slaviero e Fernando Tolentino


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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