AS FESTAS DO POVO KALUNGA
Gloria Moura fala da cultura do Povo Kalunga, em especial de suas festas, lugar em que se compreendem enquanto comunidade. Que reafirmam sua identidade. A festa é momento dos encontros, reencontros, busca de soluções conjuntas. Nas festas os Kalunga podem se ver como parte de um mesmo todo
Por Gloria Moura
Se as histórias do tempo antigo são importantes para se conhecer o povo Kalunga, tão importantes quanto elas são suas festas. Ainda hoje, como acontecia no tempo antigo, é nas festas que eles compreendem de verdade o que significa ser Kalunga.
A festa é o momento do encontro, da reunião das famílias. É a hora de rever tios e primos que moram mais longe, saber de parentes que não dão notícia há muito tempo.
É nas festas que as pessoas mais moças se encontram e começam namoros que podem dar em casamento. E é lá que os próprios casamentos são celebrados. Lá se batizam os filhos de moços e moças que se conheceram e se casaram nas festas de outros anos.
É nas festas que as pessoas se encontram para fazer negócios. E quem nasceu na comunidade Kalunga e foi morar na cidade, ou na “rua”, como se costuma dizer por lá, volta para casa para aproveitar as festas.
É quando se realizam as festas que as pessoas de fora, de Cavalcante, Monte Alegre, Teresina de Goiás, e mesmo de mais longe, vêm conhecer o povo Kalunga. E é também nessas ocasiões que as pessoas que têm mais autoridade entre os Kalunga negociam com a gente de fora, políticos e outros agentes do governo, a solução dos problemas da comunidade.
E é ali que os sitiantes mais pobres e as pessoas mais importantes, os parentes mais distantes e as lideranças mais reconhecidas, podem se ver como parte de um mesmo todo.
É ali que eles podem sentir que pertencem de fato a uma comunidade, que fazem parte de um povo que tem uma história e uma identidade, que são alguém do povo Kalunga. E é por isso que, para eles, as festas são tão importantes.
Gloria Moura – Professora e pesquisadora – Texto publicado como parte do livro “Uma história do povo Kalunga”. MEC – 2001.