Presos bolivianos produziam e vendiam artesanato com peles de onças-pintadas

Presos bolivianos produziam e vendiam com peles de onças-pintadas

Escândalo reforça o papel do país andino-amazônico como grande fonte e rota do tráfico internacional de vida selvagem.

Por Aldem Bourscheit/ O Eco

Detentos da prisão de Mocovi, em Trinidad, município na boliviana e a 600 km da capital La Paz, fabricavam itens como chapéus, cintos, carteiras e bolsas com peles de onças-pintadas, , jacarés e queixadas. 

A matéria-prima era fornecida por caçadores e vendedores locais. A produção era divulgada e vendida diretamente e também em . O diretor do presídio, o tenente-coronel Marco Ugarte, participaria do esquema. 

O escandaloso crime foi confirmado por uma investigação da ong Proteção Mundial (WAP, sigla em Inglês) publicada na revista Oryx, da de Cambridge (Inglaterra).  

Para o chefe global de Pesquisa de Vida Selvagem da organização civil, Neil D’Cruze, as imagens mostram que falhas na aplicação da lei e falta de vontade política na Bolívia precisam ser urgentemente corrigidas. 

“Precisamos que a lei funcione ao lado de campanhas de conscientização pública e de mudança de comportamento. Precisamos acabar com a dessas espécies”, disse. 

O trabalho da entidade apontou, ainda, que as peças acabadas eram compradas pelos próprios fornecedores de peles e vendidas em mercados da região. Os compradores seriam sobretudo estrangeiros. 

Jaguar fat Campesino Market Credit To Emi Kondo
Óleo e outros produtos supostamente derivados de onças-pintadas (descritas como “tigre”) também eram vendidos. Foto: Emi Kondo/WAP/Divulgação

sinistro
Bonés feitos com cabeça e peles de onças e de jacarés: Foto: Emi Kondo/WAP/Divulgação

A legislação boliviana prevê até 6 anos de prisão para traficantes de silvestres. O país vizinho é tido como um grande fornecedor e rota para esses crimes, incluindo pelas fronteiras de Brasil, Peru, Argentina, Chile e Paraguai.

“Animais ameaçados não têm chance se as próprias leis para os proteger forem flagrantemente ignoradas ou não aplicadas”, relata Roberto Vieto, conselheiro global de Animal da Proteção Animal Mundial. As informações são da Assessoria de Imprensa da ong, no Brasil. Procurada por ((o))eco, a Embaixada da Bolívia em (DF) não se pronunciou sobre o episódio até a publicação desta notícia.

Aldem BourscheitJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Emi Kondo/WAP/Divulgação.

[smartslider3 slider=43]

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

REVISTA