Quando ‘Imagine’ vira pesadelo: a ‘universalidade tóxica’
“Faz mais sentido uma cultura de paz baseada no respeito às diferenças do que na imposição de uma universalidade artificial.”
Contudo, ‘Imagine’ pode se converter num pesadelo quando pensarmos que o tal apagamento de fronteiras e identidades signifiquem a imposição de uma universalidade fabricada numa parte do mundo, a saber, o eixo euro-atlântico norte, para o restante do planeta.
Imagine negar aos povos islâmicos sua identidade religiosa, suas orações, suas vestimenta? (isso já acontece)
Imagine negar aos brasileiros seu jeito de ser, nossa alegria, espontaneidade? (Isso já está acontecendo)
E por aí vai.
O mesmo pode ser dito, sobre impor pautas de comportamento progressistas, perfeitamente válidos em NY, Londres ou Paris , para regiões onde faltam saneamento básico. É o que leva a discutir linguagem neutra onde crianças morrem de diarreia, por exemplo.
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Um mundo sem guerras passa antes pela aceitação das diferenças do que pela imposição de uma suposta universalidade – que na verdade é baseada nas particularidades de uma região do planeta e que ignoram diferenças inclusive de prioridades. O que em parte ajuda a explicar a ascensão da extrema direita no mundo: desconexão das prioridades das pessoas e imposição de valores alheios.
Que tal universalizar antes acesso à água potável, saneamento básico, calorias e proteínas, emprego, lazer, educação, energia elétrica, etc ?
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Se no passado, formas de nacionalismos obtusos possam ter sido a causa de supressão de diferenças de minorias, hoje essa ‘universalidade tóxica’ parece ser uma ameaça mais concreta à diversidade humana.
Diferenças de língua, religiosidade, modos de vida, fazem parte da riqueza da espécie humana e deveriam antes serem preservados, cultivados.
Faz mais sentido uma cultura de paz baseada no respeito às diferenças do que na imposição de uma universalidade artificial.
Leandro Altheman Lopes – Jornalista acreano. Capa: John Lennon – You Tube.
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