Quando ‘Imagine’ vira pesadelo: a ‘universalidade tóxica’

Quando ‘Imagine’ vira pesadelo: a ‘universalidade tóxica’
 
“Faz mais sentido uma de paz baseada no respeito às diferenças do que na imposição de uma universalidade artificial.”
 
 
A canção Imagine imortalizou o sentimento e a de um sem fronteiras e sem diferenças de religião.
Contudo, ‘Imagine’ pode se converter num pesadelo quando pensarmos que o tal apagamento de fronteiras e identidades signifiquem a imposição de uma universalidade fabricada numa parte do mundo, a saber, o eixo euro-atlântico norte, para o restante do planeta.
 
Imagine negar aos islâmicos sua identidade religiosa, suas orações, suas vestimenta? (isso já acontece)
Imagine negar aos seus ritos, tradições orais, modo de ? (Isso também já acontece)
Imagine negar aos brasileiros seu jeito de ser, nossa alegria, espontaneidade? (Isso já está acontecendo)
E por aí vai.
 
O mesmo pode ser dito, sobre impor pautas de comportamento progressistas, perfeitamente válidos em NY, Londres ou Paris , para regiões onde faltam saneamento básico. É o que leva a discutir linguagem neutra onde crianças morrem de diarreia, por exemplo.
 
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Um mundo sem guerras passa antes pela aceitação das diferenças do que pela imposição de uma suposta universalidade – que na é baseada nas particularidades de uma região do planeta e que ignoram diferenças inclusive de prioridades. O que em parte ajuda a explicar a ascensão da extrema direita no mundo: desconexão das prioridades das pessoas e imposição de valores alheios.
 
Que tal universalizar antes acesso à água potável, saneamento básico, calorias e proteínas, emprego, lazer, educação, energia elétrica, etc ?
 
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Se no passado, formas de nacionalismos obtusos possam ter sido a causa de supressão de diferenças de minorias, hoje essa ‘universalidade tóxica’ parece ser uma ameaça mais concreta à humana.
 
Diferenças de , religiosidade, modos de vida, fazem parte da da espécie humana e deveriam antes serem preservados, cultivados.
 
Faz mais sentido uma cultura de paz baseada no respeito às diferenças do que na imposição de uma universalidade artificial.
 
Leandro Altheman Lopes – Jornalista acreano. Capa: John Lennon – You Tube. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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