Silenciar a filosofia é silenciar a democracia

Silenciar a filosofia é silenciar a democracia

Por: Felipe Alberti no justificando

A criação de explicação para os fenômenos, para acontecimentos sociais, permite ao indivíduo uma compreensão da realidade: compreendendo-a pode agir sobre ela.

É a partir da perspectiva conceitual de algo que se procura justificar uma crença, uma explicação racional da realidade. Diferentes perspectivas sobre a igualdade, por exemplo, terão como resultado diferentes condutas, atos e compreensão da realidade.

Dito de outro modo, da construção subjetiva do mundo – alicerçada em crenças, códigos e normas – surge os motivos para as mais diversas condutas dos indivíduos.

Dessa construção subjetiva, emergem na grupos de pessoas que não comungam – não pensam – o mesmo mundo. Consequentemente: concepções diferentes de realidade convivem e colidem, já que ordens, regras, códigos e padrões de conduta valorados e percebidos como moralmente bom para certos grupos de pessoas, não o é para o outro.

Diante disso e dos diversos conceitos que transitam na sociedade propondo condutas diversas e compreensões diferentes da realidade, emerge a importância da filosofia: o seu aspecto questionador.

A filosofia não se contenta com conceitos existentes na sociedade por força da moral, da política e da . Pelo contrário, a filosofia parte da crítica desses conceitos e da criação de novos – não na busca de um conceito inabalável, mas ambicionando uma que resulte em crítica e construção da realidade: esta sempre provisória.

Em outras palavras, a filosofia vislumbra a existência de diversos conceitos com base em valores diferentes. Respeitá-los, criticá-los e defendê-los por meio do diálogo e do argumentativo é premissa básica de uma .

Portanto, querer silenciar a filosofia: é silenciar as crenças e conceitos sobre a realidade; é silenciar quem concebe o mundo de outra forma; é silenciar a existência do outro e a dele em construir pelo livre pensar conceitos sobre a realidade; é silenciar a democracia.

Felipe Alberti é bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); Licenciado em Letras Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Fonte: http://www.justificando.com/2019/04/29/silenciar-a-filosofia-e-silenciar-a-democracia/?

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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