Reservas Extrativistas

Reservas Extrativistas

Em uma de suas gravações com Lucélia Santos, Chico Mendes explica, didaticamente, o conceito das Reservas Extrativistas, apresentado por ele mesmo durante o I Encontro do CNS, em 1985, em Brasília: 

Por Redação/Fetec Centro Norte

A proposta das Reservas Extrativistas é o seguinte: as terras [es]tão supostamente aí nas mãos dos grandes latifundiários. Em toda a área do Acre, apenas dez donos dominam todo o poderio de terras no Acre. Dez mandantes. 

O que nós queremos é o seguinte: É que essas terras passem para o domínio da União, que o governo desaproprie essas áreas, que elas passem para o domínio da União, não do Estado, da União, e que elas se transformem em usufruto para os habitantes da floresta, ou seja, para os seringueiros. 

E aí nós estamos colocando como proposta [o] cooperativismo, nós estamos colocando como proposta prioritária uma melhor forma de comercialização da borracha, a comercialização da castanha; nós queremos criar indústrias caseiras para se dar prioridade às outras riquezas porque, veja bem, quando nós defendemos a Reserva Extrativista, e quando nós defendemos e que nós apostamos que a Reserva Extrativista é economicamente viável para o Brasil, para a Amazônia e para a humanidade, é que nós não defendemos simplesmente hoje só a economia da borracha, não só a economia da castanha, mas a copaíba, os produtos extrativistas que são vários em toda a região da floresta e que estão sendo destruídos: o coco da tucumã, o patoá, o açaí, a copaíba, outra série… falta pesquisa nessa Amazônia, as árvores medicinais que é impossível ser[em] contadas, falta pesquisa… 

Basta que o governo leve a sério e nos dê essa possibilidade que em pouco tempo nós vamos provar que é possível se conservar a Amazônia e transformar essa Amazônia numa região economicamente viável para o Brasil e para o mundo. Isso, nós temos clareza disso!

“Neste momento em que o Conselho Nacional das Populações Extrativistas CNS completa seus 38 anos de luta, a Fetec/CUT Centro-Norte expressa sua gratidão a todas as lideranças que, muitas vezes colocando em risco suas próprias vidas, construíram essa belíssima jornada de conquistas e de resistência. Parabéns, CNS. Longa vida para todos os povos que, em aliança, vão forjando o futuro da Amazônia!”

Cleiton Silva – Presidente da FETEC-CUT Centro Norte.

 
 
 
 
 
 
 
Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

0 0 votos
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

CAMPANHAS

Parcerias

Ads2_parceiros_CNTE
Ads2_parceiros_Bancários
Ads2_parceiros_Sertão_Cerratense
Ads2_parceiros_Brasil_Popular
Ads2_parceiros_Entorno_Sul
Ads2_parceiros_Sinpro
Ads2_parceiros_Fenae
Ads2_parceiros_Inst.Altair
Ads2_parceiros_Fetec
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

REVISTA

REVISTA 109
REVISTA 108
REVISTA 107
REVISTA 106
REVISTA 105
REVISTA 104
REVISTA 103
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow

CONTATO

logo xapuri

posts recentes

CHICO MENDES 35 ANOS – EMPATE DE RETOMADA

Há 35 anos, Chico Mendes foi silenciado, mas sua luta ecoa até hoje. Quer saber como você pode fazer parte dessa história?

💪🏼Chico Mendes foi um líder inesquecível, assassinado por defender nossas florestas e os povos que nelas vivem. Seu legado enfrentou ameaças, mas agora é a hora da virada. É o momento do “Empate de Retomada”, uma nova fase na luta pelas conquistas e ideais de Chico.

👉🏻Para fazer esse empate acontecer, precisamos mais do que nunca da sua parceria e contribuição. DOE AGORA! Seja parte dessa retomada!