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RESISTÊNCIA FEMININA NAS TELAS DO CINEMA

RESISTÊNCIA FEMININA NAS TELAS DO CINEMA

Resistência Feminina

Recentemente, quatro bons filmes sobre foram exibidos nas salas de brasileiras: Carol, Hannah Arendt, Flores Raras e As Sufragistas.

Por Joseph Weiss

Nos quatro, mulheres libertárias optaram por enfrentar sociedades conservadoras por um objetivo maior: a defesa de seus modos de pensar e de existir.

Carol

RESISTÊNCIA FEMININA NAS TELAS DO CINEMA
Foto: Reprodução/Adoro Cinema

Exibido pela primeira vez no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015, o , do diretor Todd Haynes, retrata o envolvimento homoafetivo de duas mulheres, Carol Aird (Cate Blanchett) e Therese Belivet (Rooney Mara), no início da década de 1950, época de acirrado preconceito contra a homossexualidade nos .

 

Com uma filha pequena e familiar confortável e estável para os padrões da época, Carol se vê obrigada a camuflar seus sentimentos. O filme mostra um universo repleto de sutilezas, expressados em toques e olhares sem pressa nem extravagância que explodem em grandes momentos de ardente paixão depois de o caso vir à tona.

Desmorona-se o casamento burguês. Carol pede o divórcio. O marido recusa a separação e parte para a chantagem: ou ela volta ou perde a guarda da filha. O caso vai parar os tribunais.

Em um rompante durante a audiência, Carol decide sacrificar a guarda da filha pelo de sua companheira, que conheceu acidentalmente em uma loja de departamentos. Com relação à guarda da filha, o filme deixa subentendido que Carol conseguiu ficar com o direito a visitas supervisionadas. Já Therese, a balconista objeto de sua paixão, virou fotógrafa do New York Times.

Flores Raras

Drama do brasileiro Bruno Barreto, Flores Raras retrata a história verídica de amor entre a forte e decidida arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a tímida e insegura poetisa americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto), nos anos 1960. O filme rompe com um tabu no cinema brasileiro, ao colocar o relacionamento homoafetivo como tema central do roteiro.

Deixando de lado os tradicionais estereótipos, Flores Raras conta uma bela e dramática história de amor, durante um período importante de nossa história recente: o Golpe Militar de 1964 e suas implicações para o futuro da e das liberdades no Brasil.

RESISTÊNCIA FEMININA NAS TELAS DO CINEMA
Foto: Reprodução/Wikipedia

Decidida e controladora, Lota alia-se ao governador golpista Carlos Lacerda e investe seu na construção do Parque do Flamengo, negligenciando o relacionamento com Bishop que, depois de uma internação psiquiátrica, opta por voltar aos Estados Unidos. De volta a casa, mesmo amando Lota, Bishop envolve-se em novo relacionamento.

O filme começa e termina com um triângulo amoroso homossexual, explorado apenas de forma subliminar. No início da relação com Bishop, Lota mantém no Rio de Janeiro outra relação afetiva de longa data. Depois da partida da amada, não conseguindo viver sem Bishop, Lota viaja aos Estados Unidos em busca dela. Lá, encontra a companheira com nova união estável, o que a leva ao desespero e ao final dramático do filme.

Hannah Arendt

Em Hannah Arendt, a diretora Margarethe von Trotta trata do julgamento, em 1961, de Adolf Eichmann, um dos nazistas que escaparam do Julgamento de Nuremberg vindo para a América Latina. Agentes israelenses o capturaram na Argentina e o levaram escondido para julgamento em Jerusalém.

Embora não fosse jornalista, Hannah Arendt, (Barbara Sukowa), judia alemã chegada aos Estados Unidos como refugiada, vinda de um campo de concentração nazista na França, viajou a Israel para fazer a cobertura do julgamento para a revista independente The New Yorker. O material da cobertura, organizado pela revista em 5 artigos, gerou enorme controvérsia.

Para Arendt, muitos dos que praticaram crimes de guerra eram simples burocratas e não monstros. Em seu entendimento, Eichmann era um mero burocrata, um João ninguém banalizando o ódio, e não o monstro criado pela mídia. Nos artigos, Arendt relata também sua inconveniente perspectiva de que alguns influentes judeus europeus, principalmente entre os rabinos, ante o Holocausto lavaram as mãos, ou mesmo ajudaram na matança de seus pares.

Em consequência, Hannah tornou-se persona não grata para grande parte da comunidade judaica de New York e passou a ser vista como uma inimiga do Estado de Israel. Mesmo com a americana contra ela e contra a revista, Hannah Arendt resistiu a todo tipo imaginável de pressão e em nenhum momento recuou de suas posições.

As Sufragistas

O filme, conduzido pela diretora Sarah Gravon, é sobre a luta pelo direito ao voto das mulheres no início do século 20, na Inglaterra, um dos primeiros países do onde as mulheres decidiram que tinham esse direito.

Desde o começo, o roteiro mostra homens bradando contra o voto feminino. Em resposta, a operária Maud Watts (Carey Mulligan) joga uma pedra contra uma vitrine, ao mesmo tempo em que grita por seus direitos.

RESISTÊNCIA FEMININA NAS TELAS DO CINEMA
Foto: Reprodução/Adoro Cinema

Presa e torturada, Maud, uma lavadeira sem nenhuma formação política, acostumada à opressão masculina, desperta para a política. Daí pra frente, passa a lutar contra as opressoras regras sociais do início do século XX.

Por todo o filme, a luta pelo direito ao voto se mostra como uma luta contra a opressão; a ausência do direito ao sufrágio serve como pano de fundo para a denúncia da desigualdade entre os sexos, para a defesa das minorias e para a denúncia dos valores machistas, apontando o dedo para as tragédias sociais que ainda hoje persistem em várias partes do mundo.

Para as mulheres inglesas (apenas para mulheres proprietárias maiores de 30 anos), o direito ao voto foi conquistado no ano de 1918, fortalecendo a luta pelos direitos das mulheres em todo o mundo.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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